A pandemia e os retrocessos da segurança alimentar no Brasil

A pandemia de covid-19 colaborou para que o brasileiro tivesse menos comida – e de menor qualidade – no prato. Em 2020, estima-se que 116,8 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar, dos quais 19 milhões conviviam com a fome. Quais fatores contribuíram para esse cenário? Mudanças nas políticas públicas e a crise econômica e política levaram a perdas de conquistas importantes no campo da segurança alimentar e nutricional ao longo dos últimos anos.

CRÉDITO: ADOBE STOCK


Entre 2004 e 2013, a insegurança alimentar se reduziu de forma expressiva nos domicílios brasileiros, situação representada pelo aumento no acesso aos alimentos, tanto em quantidade como em qualidade

 A segurança alimentar e nutricional (SAN) é parte da agenda pública do país desde longa data. Trata-se de área que abarca múltiplos conhecimentos, tanto no cenário nacional como internacional, e representa a relação entre disponibilidade e acesso aos alimentos, consumo e qualidade da alimentação, condição de saúde e estabilidade para manter uma situação de vida satisfatória. A avaliação da SAN pode ser direcionada a um país, uma cidade ou até uma família. 

No Brasil, o conceito dessa área foi um marco desenvolvido na II Conferência Nacional de SAN, em 2005, com a participação de diferentes segmentos da nossa sociedade: gestores e técnicos de governo, instituições acadêmicas e organizações sociais, como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) – extinto em 2019 – e os conselhos estaduais e municipais da área. O conceito brasileiro agrega o termo ‘nutricional’ à ideia de segurança alimentar, usualmente usada em outros países, com o objetivo de interligar duas abordagens importantes para a construção da área no país – a de saúde e a socioeconômica. 

Aline Alves Ferreira e Rosana Salles-Costa
Departamento de Nutrição Social e Aplicada,
Instituto de Nutrição Josué de Castro,
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Juliana de Bem Lignani
Divisão de Nutrição,
Hospital Universitário Pedro Ernesto,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro