A academia entra na rede

 

Apesar do número de veículos de divulgação científica ter aumentado nos últimos anos, o acesso a informações sobre os profissionais que trabalham com pesquisa e à sua produção acadêmica ainda é restrito a uma pequena parte da população. Muitas vezes, os próprios acadêmicos têm dificuldade para encontrar dados sobre o trabalho de outros cientistas. Dois portais que começaram a funcionar neste ano têm a intenção de tornar a comunicação da comunidade acadêmica mais rápida e eficiente, assim como a interação entre as universidades e a sociedade. Eles permitem que os pesquisadores divulguem seus estudos e troquem informações pela internet.

Página inicial do Portal Mundo Acadêmico, criado por iniciativa de pesquisadores da UnB. O site permite ler notícias e procurar as páginas individuais de cada professor.

Um dos sites é o Portal Mundo Acadêmico ( www.mec.gov.br/mundoacademico ), iniciativa da Secretaria de Educação Superior (Sesu) lançada em 15 de maio. O projeto foi idealizado por professores da Universidade de Brasília (UnB) e representantes da Unesco. Segundo Irla Rebelo, consultora da Sesu e coordenadora do projeto, os professores podem colocar informações sobre as disciplinas que ministram nas universidades e escrever notícias que alimentarão o portal. “Os professores terão uma página própria para colocar conteúdos de várias naturezas como textos, vídeos e fotos”, diz ela. “O governo disponibiliza a tecnologia através do sistema de publicação, mas o conteúdo do site é responsabilidade exclusiva dos professores.”

A página do professor da UnB Gustavo Dourado, por exemplo, traz informações que permitem traçar seu perfil acadêmico: ele nasceu na Bahia, é formado em Letras pela UnB e trabalha numa linha de pesquisa voltada para História da Educação em Brasília. Irla Rebelo afirma que essa ferramenta é mais dinâmica que o Currículo Lattes – que também apresenta informações sobre os acadêmicos. “Enquanto no Lattes é possível ver apenas o título da tese de determinado professor, no portal estará disponível o material que o docente utiliza para pesquisar e, se ele quiser, a própria tese”, afirma.

O projeto piloto está restrito a 15 instituições de ensino, mas a Sesu pretende estender o sistema a todas as universidades do país – públicas ou privadas – em cerca de quatro meses, reunindo quase 300 mil professores cadastrados. O portal também conta com um sistema de busca que pretende unir, em uma etapa futura, as páginas de todos os professores numa única ferramenta virtual, inclusive os sites dos acadêmicos que já possuem páginas individuais.

Segundo Rebelo, mais de quatro milhões de alunos serão beneficiados quando o sistema estiver disponível para todas as instituições de ensino superior. “Os jovens têm acesso a muitas informações na internet, mas não têm condições de selecionar o que é confiável”, afirma. “Essa ferramenta, além de democratizar a informação, tem o objetivo de filtrar o conhecimento veiculado na rede. Os conteúdos são produzidos por professores universitários, ou seja, a fonte é segura.”

Orkut acadêmico

Página inicial do Portal Artigo Científico, desenvolvido por alunos da UFSC. O site permite que os pesquisadores criem perfis acadêmicos e busquem artigos por assunto ou autor.

Já a proposta do Portal Artigo Científico ( www.artigocientifico.com.br ) é um pouco diferente: ele não se restringe ao corpo docente e, por enquanto, apenas publica artigos acadêmicos. O site, que está no ar há três meses, já reúne quase seis mil pesquisadores e foi idealizado por alunos de graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A partir deste mês, ele começará a oferecer um calendário de eventos e uma lista de links.

“Percebemos que há uma dificuldade para acessar artigos científicos, o portal tenta preencher essa lacuna”, diz estudante de agronomia Paulo Crestani, coordenador do projeto. Ele afirma que, apesar de o governo disponibilizar gratuitamente para os pesquisadores mais de dez mil periódicos no Portal de Periódicos da Capes, muitos professores não acessam os artigos devido à falta de usabilidade da ferramenta. “O mesmo acontece com o Portal SciElo”, garante ele. “É complicado encontrar a informação certa nesses sites porque eles não apresentam os conteúdos de forma eficiente.”

O portal tem características que lembram o site de relacionamentos Orkut, em versão acadêmica. “Os pesquisadores que tiverem artigos cadastrados poderão preencher um perfil como o do Orkut”, conta Crestani. “Nessa página, os usuários poderão visualizar o que esse cientista fez, quais são suas áreas de interesse e linhas de pesquisa.”

A iniciativa aposta também em um sistema de avaliação dos artigos publicados como diferencial. “A idéia é que os usuários avaliem a qualidade dos textos, com notas e observações”, explica Crestani. “Em função da nota, o site recomenda ou não determinados artigos.” Ele destaca ainda o sistema de comentários como ferramenta fundamental para que haja interatividade. “É possível falar com o pesquisador sobre determinado artigo, fazer perguntas, comentários ou sugestões.”

Todavia, é necessário ter cuidado com a displicência na avaliação, pois em alguns casos isso pode facilitar a divulgação de informações sem credibilidade. “Nossa idéia é tornar o sistema de avaliação o mais eficiente possível. Queremos saber quem está avaliando o material”, explica Crestani.

Franciane Lovati
Ciência Hoje On-line
21/06/1006