A biotecnologia em discussão

Os primeiros produtos da engenharia genética começaram a entrar no mercado nos anos 1980, quando a insulina produzida em bactérias transgênicas chegou a farmácias americanas. Na década seguinte os primeiros alimentos transgênicos chegaram às prateleiras dos supermercados de vários países. Atualmente mais de 50 milhões de hectares em todo o mundo são cultivados com plantas transgênicas. No entanto, essa tecnologia desperta ainda muita desconfiança, gerada sobretudo pela falta de informação. Mas os curiosos já podem tirar suas dúvidas sobre o assunto: dois lançamentos recentes abordam o tema e pretendem desmistificar a polêmica.

O primeiro é Organismos transgênicos , escrito pelo agrônomo Francisco Aragão e dedicado ao público leigo. Bastante didático, o livro explica como as características são passadas de geração em geração, o que são genes e cromossomos, o que é DNA, qual é sua estrutura e como foi descoberta. Aragão conta brevemente a história da biotecnologia, inclusive a origem do termo, criado em 1919 para designar produtos resultantes da ação de microrganismos, como queijo e cerveja.

Depois da breve aula de genética, fica mais fácil entender que organismo transgênico é aquele em cujo genoma são inseridos genes de outro organismo. O objetivo é transferir para o receptor características do doador dos genes. É possível assim criar plantas resistentes a insetos e fungos, plantas que produzam antibióticos e outros medicamentos ou animais que engordem mais rápido. O autor explica que métodos são usados para a transferência dos genes e quais os possíveis riscos da tecnologia.

Bioética & biorrisco traz um conjunto de 19 artigos de diferentes cientistas organizados por Silvio Valle e José Luiz Telles, ambos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz. Os textos tratam de diversos aspectos ligados à biotecnologia — transgênicos, clonagem, biossegurança etc.

Um deles, escrito por Lygia Pereira, discute a clonagem de plantas — que permite, por exemplo, a criação de florestas de eucaliptos idênticos, com qualidade superior de madeira — e de animais, que pode acelerar o melhoramento das raças, feito há séculos pelo homem por meio de cruzamentos e seleções. Porém, a uniformidade genética é perigosa: se um clone é suscetível a uma doença, todos os outros também serão. A autora também discute a ética na clonagem humana reprodutiva e terapêutica.

Outro artigo, de Rafaela Guerrante, Adelaide Antunes e Nei Pereira Jr., expõe as utilidades dos transgênicos — como a produção de vacinas, hormônios, anticorpos e plásticos. Também enumera seus riscos potenciais, como o surgimento de insetos resistentes a herbicidas e a contaminação de culturas convencionais por culturas transgênicas por meio da troca de pólen.

A leitura desses livros permitirá ao leitor formar sua própria opinião sobre a biotecnologia e não se deixar mais impressionar por informações superficiais e erradas, às vezes divulgadas pela imprensa.

 

Organismos transgênicos – explicando e discutindo a tecnologia
Francisco J. L. Aragão
Barueri, 2003, Editora Manole
115 páginas
Bioética & biorrisco – abordagem transdisciplinar
Silvio Valle e José Luiz Telles (org.)
Rio de Janeiro, 2003, Interciência
417 páginas

Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
19/03/03