A busca pela Teoria de Tudo

 

 Stephen Hawking é um fenômeno. O inglês, titular da cadeira que foi de Isaac Newton na Universidade de Cambridge, é um dos grandes físicos teóricos dos últimos 50 anos, responsável — com o colega Roger Penrose — pela demonstração de que o espaço-tempo teve início no Big-Bang. É talvez o cientista vivo mais conhecido no mundo.

 

A popularidade de Hawking ganhou enorme impulso em 1988, quando foi lançado seu best-seller Uma breve história do tempo . O livro vendeu 10 milhões de cópias, mas sua difícil linguagem fez com que apenas uma pequena fração dos que leram o prefácio chegasse à última frase. Segundo a piada, Uma breve historia no tempo concorre com Ulisses , de James Joyce, pelo posto de livro mais vendido e menos lido da história.

Em seu novo livro, O universo numa casca de noz , Hawking tenta corrigir os defeitos do anterior — o que admite no prefácio. O texto é pequeno (as 200 páginas caberiam em 100), e a enorme quantidade de belas ilustrações tem o claro objetivo de facilitar o entendimento do leigo. Apesar do capricho na produção, o resultado é um livro confuso e, novamente, mais difícil do que deveria.

Hawking narra a busca pela Teoria de Tudo — uma única teoria capaz de descrever o universo, sem contradições ou incoerências, que apare as arestas que surgem quando as teorias físicas mais aceitas entram em contradição. Para isso, analisa os avanços da física nos últimos cem anos, da relatividade às supercordas, passando por mecânica quântica e entropia.

A Teoria de Tudo ainda não foi descrita, mas Hawking suspeita que o caminho seja a teoria-M, que pressupõe a existência de onze dimensões: uma temporal, três espaciais visíveis e sete recurvadas. A teoria-M é, na verdade, a soma de cinco teorias das supercordas, que variam em aspectos como tamanho e formas geométricas das dimensões recurvadas, mas têm a mesma essência. O êxito da teoria, no entanto, esbarra na quase impossibilidade de sua comprovação: como observar as dimensões recurvadas, que poderiam chegar, segundo Hawking, ao comprimento de um milímetro dividido por cem mil bilhões de bilhões?

Ele sugere, então, a existência de dimensões extras gigantescas, até infinitas, que não percebemos. Segundo Hawking, essa pequena variação na teoria-M poderia facilitar sua comprovação. A tecnologia capaz de sondar as dimensões ocultas — na situação exposta por Hawking, mesmo as recurvadas aumentariam significativamente — já está disponível, e a tarefa poderia ser cumprida pelo acelerador de partículas que está sendo construído em Genebra.

O universo numa casca de noz é um livro difícil, ao contrário do que se diz por aí. Hawking não titubeia: os conceitos físicos mais complicados são rapidamente explicados, e ele vai em frente (a relatividade e suas aplicações duram meras 22 páginas). O excesso de figuras (mais de 200) soa como mea-culpa e só atrapalha; a conseqüência é um deslocado aspecto de livro didático. O resultado? O livro é primeiro lugar em vendas no Brasil e quarto nos EUA. Um fenômeno.

 

O universo numa casca de noz
Stephen Hawking (trad.: Ivo Korytowski)
São Paulo, 2001, Editora Mandarim
215 páginas; R$ 35,00

 

Tiago Lethbridge
Ciência Hoje on-line
26/11/01