A savana mais rica do mundo

O cerrado é a savana com maior riqueza de espécies de plantas no mundo. Essa é a conclusão de um levantamento realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), que catalogaram mais de 12 mil espécies da flora do bioma entre 1988 e 2007. A previsão é que, nos próximos dez anos, pelo menos mais cinco mil espécies sejam identificadas.

Segundo a engenheira florestal Jeanine Felfili, do Departamento de Engenharia Florestal da UnB, essa diversidade deve-se à existência de diferentes ambientes que compõem o bioma, formando um mosaico com diversos tipos de vegetação que se intercalam. Esses ambientes se diferenciam principalmente quanto ao nível de umidade, à proximidade com os rios, ao relevo e ao tipo de solo.

“Nas áreas de mata de galeria, próximas aos rios, existe uma vegetação semelhante à da floresta tropical úmida. Já as áreas mais altas são ocupadas pelo cerrado típico, com vegetação de savana”, conta Felfili. “Nos afloramentos de calcário, encontramos a mata seca, que se assemelha à caatinga”, acrescenta a pesquisadora.

Além disso, existem áreas de transição, também conhecidas como ecótonos, onde ocorre intenso intercâmbio florístico, devido ao contato entre o cerrado e outros biomas. “O cerrado faz fronteira com a Amazônia, o Pantanal, a caatinga e a mata atlântica”, aponta Felfili. Por causa dessa interação, existem espécies de plantas comuns aos dois biomas e endêmicas das áreas de transição.

Sobre as espécies identificadas, Felfili destaca o grande número de herbáceas (gramíneas), sobretudo no cerrado típico, que abrange a maior parte do bioma. “Nessa área, existem duas camadas de vegetação distintas: uma de árvores lenhosas, com menos exemplares, e outra de gramíneas, que reúne uma grande riqueza de espécies”, conta. “Com base nos dados obtidos, estimamos que um hectare de cerrado típico contenha por volta de 300 espécies de plantas”, diz.

Conhecimento ameaçado

A área mais devastada do cerrado é a que abriga a vegetação de savana (o cerrado típico), pois seus terrenos planos e solos profundos, porosos e bem drenados são adequados à construção de cidades e à prática agrícola (foto: Ricardo Flores Haidar).

A pesquisadora alerta que, no futuro, diversas espécies não poderão sequer ser descobertas, caso o ritmo de destruição do cerrado permaneça alto. Esse risco é ainda maior no norte do Mato Grosso, uma área ainda pouco estudada e que tem sofrido com os efeitos da expansão agrícola, que também atinge o restante do bioma. Outra ameaça à flora do cerrado é a crescente urbanização da região Centro-oeste.

Segundo Felfili, a área mais devastada é o cerrado típico, formado por terrenos planos e solos profundos, porosos e bem drenados, características adequadas à construção de cidades e à prática agrícola. Mas essas atividades também afetam outras partes do bioma. “Os ambientes úmidos, por exemplo, têm sofrido com o desequilíbrio hídrico e com a seca, causados pela irrigação nas fazendas e pela drenagem de terrenos para a construção ou expansão de cidades”, aponta.

Já os afloramentos rochosos têm sido muito explorados para a retirada de calcário, usado na construção civil. Isso prejudica significativamente a fixação dos vegetais que vivem na área, bem como a fauna que depende deles para sua alimentação e moradia.

“Acreditamos que, devido à degradação que o cerrado tem sofrido há quase 30 anos, algumas espécies desapareceram antes mesmo de serem identificadas”, lamenta Felfili. “Um dos objetivos do nosso trabalho é justamente evitar essa situação. Uma vez conhecidas as características e particularidades das espécies, poderemos pensar em ações mais eficazes de gestão ambiental”, avalia.   

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
26/05/2008