Lá vamos nós outra vez. Vamos escrever que o bóson de Higgs foi postulado pelo físico inglês Peter Higgs na década de 1960 para fechar o modelo padrão da física de partículas. Vamos dizer que o bóson de Higgs seria a chave, ou a peça que falta, para explicar a origem da massa de outras partículas elementares. E vamos – novamente, mais uma vez, de novo! – perguntar: será que finalmente vão anunciar a descoberta do bóson de Higgs?
Parte da blogosfera científica internacional, alguns veículos respeitados mundo afora e a Reuters – agência de notícias que ditou a pauta da maioria das editorias de ciência brasileiras – bancaram o “é possível que sim”. A data para o anúncio seria 4 de julho, próxima quarta-feira, durante a Ichep, importante conferência sobre partículas de alta energia que ocorrerá em Melbourne, na Austrália.
Em 13 dezembro do ano passado, o mundo da ciência parou para ver a coletiva de imprensa que poderia ter noticiado a descoberta do bóson de Higgs. Bateu na trave. Na matéria ‘Colisões inconclusivas‘, publicada no mesmo dia, contamos que os cientistas se aproximaram da partícula, limitando sua localização a um determinado intervalo energético.
Sabe-se que essas análises vêm, desde dezembro, sendo refinadas e retrabalhadas pelos pesquisadores, de modo a garantir estatisticamente que as atividades observadas em dezembro eram uma evidência do bóson de Higgs, e não um sinal mal interpretado.
Assista ao documentário, em inglês, que o Cern preparou para divulgar sua participação na Ichep
O Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), responsável pela pesquisa e pelo suposto anúncio, não diz nem que sim nem que não. Rumores dão conta, e o Cern confirma em seu blogue oficial, de que neste momento os cientistas responsáveis pela busca do bóson de Higgs estão confinados – e assim permanecerão até o dia da conferência – analisando os dados obtidos. Dados, aliás, que duplicaram, quando comparados aos registrados no ano passado, segundo nota oficial da própria instituição.
“Você vai ter de ser paciente!”
De fato, o primeiro dia do evento na Austrália contará com a divulgação oficial dos novos dados sobre a busca do bóson de Higgs no Cern. Logo depois, haverá uma coletiva de imprensa no próprio centro, em Genebra (Suíça).
Uma das teorias que apontam para a divulgação da descoberta do bóson de Higgs chama a atenção para um fato que passou despercebido pela maioria: a Austrália não faz parte oficialmente do Cern e a divulgação de uma notícia desse quilate no país seria pouco provável – daí a importância de a coletiva de imprensa ocorrer em Genebra, no Cern, após o evento em Melbourne.
A física Pauline Gagnon, que, além de atuar no Cern, está na linha de frente da comunicação do centro, respondeu e-mail enviado ontem à noite de modo simpático, mas um tanto misterioso.
“Olá Thiago,
Infelizmente, a informação está embargada até o seminário. Neste momento, nem mesmo o diretor geral está a par de todo o cenário. Os cientistas estão fazendo os retoques finais em suas análises, acrescentando os dados mais recentes e fazendo combinações. Tudo isso ainda está em andamento. […]
É muito importante, quando divulgamos um resultado, que ele seja seguro e confiável. As pessoas estão trabalhando muito duro agora para produzir bons resultados científicos em tempo para o seminário. Não faz sentido dizer nada até que esse processo seja concluído.
Desculpe, não posso dizer mais nada neste momento. Você vai ter de ser paciente!”
Além desse contato com Pauline, conversamos também com um físico de confiança da redação que está agora no Cern e que pediu, como era de se esperar, para não ter seu nome divulgado: ele não assegurou, mas disse que há reais chances de o esperado anúncio ser feito.
Para ter certeza de que ‘agora vai’, vamos ter de esperar até a próxima semana. O Cern transmitirá ao vivo pela sua página na internet o seminário na Austrália e, em sequência, a coletiva de imprensa em Genebra. É um programa para quem acorda cedo, ou dorme tarde: o evento na Austrália começa às 4 horas da manhã, horário de Brasília (9 horas de Genebra). Quem sabe a quarta-feira que vem não amanhece com um bóson de Higgs no ar?
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line