O cientista mais querido da internet, o químico inglês Martyn Poliakoff – aquele que ganhou de presente dos colegas a menor tabela periódica do mundo, impressa em um dos fios de sua vasta cabeleira –, acabou de receber o prêmio Prize for Online Resources in Education, da revista Science, em reconhecimento ao seu trabalho de divulgação científica na internet.
O professor Poliakoff e sua equipe, formada pelo jornalista Brady Haran e mais sete químicos da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, mantêm desde 2008 o projeto The Periodic Table Videos, uma página da internet em que disponibilizam divertidos vídeos sobre cada elemento da tabela periódica.
A ideia do projeto surgiu quando Haran, que já fazia vídeos sobre química, conheceu Poliakoff. “Eu sempre tive fascinação pela tabela periódica e, quando fui apresentado ao professor, logo vi que era uma oportunidade perfeita para começar algum projeto nesse sentido, pois ele tem uma aparência muito boa, fala muito bem e gosta do contato com o público”, conta o jornalista.
Já Poliakoff viu no projeto uma chance de ampliar seu público de “alunos” e ainda falar sobre algo de que tanto gosta: a química. E, de fato, foi o que aconteceu: os vídeos são um sucesso tremendo, especialmente entre os mais jovens. Alguns já foram assistidos mais de 476 mil vezes em 200 países.
“Eu percebi que, em uma semana, eu ensino para mais pessoas do que já ensinei em toda a minha vida como professor”, diz Poliakoff, que, já na década de 1970, dava palestras para alunos de escolas de ensino fundamental e médio. E completa: “Na verdade, em uma noite, há mais pessoas assistindo aos nossos vídeos do que todos os alunos que já tive.”
Além da tabela periódica
Como os 118 elementos da tabela periódica não foram suficientes para a criatividade desse pessoal, a equipe continua produzindo, toda semana, vídeos sobre moléculas, substâncias e os mais variados assuntos ligados à química, como o acidente nuclear em Fukushima, no Japão.
Dentre os filmetes mais curiosos estão um que mostra a digestão de um cheeseburger em ácido clorídrico (o mesmo que temos no estômago), uma experiência explosiva somente com água e um vídeo que explica, de modo elegante, os efeitos do Viagra.
Veja um dos filmes mais populares do Periodic Videos, que mostra o processo de digestão de um cheeseburger
O enorme alcance que esse trabalho de divulgação científica atingiu rendeu ao professor sua recente nomeação ao cargo de secretário de relações internacionais da Royal Society de Londres (Inglaterra), a mais antiga e tradicional instituição científica do mundo.
Poliakoff avisa que o novo trabalho não vai impedir que o projeto com os vídeos continue. “Acredito que a popularização da ciência é um dever fundamental de todo cientista”, afirma. “Vamos continuar com o nosso objetivo, que é mostrar por que achamos a química estimulante e por que o público também deveria se interessar por ela.”
Para os fãs brasileiros
E se você, leitor, está pensando que vai ficar de fora dessa porque os vídeos são em inglês, saiba que quase todos têm legendas em português. A equipe tem um tradutor oficial, o professor Luis Brudna, da Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do Sul), que mantém a página de divulgação científica Tabela Periódica.
A equipe do Periodic Videos ainda guarda uma surpresa para os fãs brasileiros: vídeos filmados aqui no Brasil! Poliakoff esteve em Florianópolis no final de maio para a 34ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química e não pôde deixar de passar no Rio de Janeiro.
Na cidade maravilhosa, o cientista e o jornalista Brady Haran filmaram no Jardim Botânico (sobre a química das árvores brasileiras), no Cristo Redentor (sobre a pedra-sabão) e na praia de Copacabana (sobre a areia), entre outros locais.
- Durante visita ao Rio de Janeiro, o professor Martyn Poliakoff fez vídeos no Cristo Redentor (acima) e na praia de Copacabana (abaixo), acompanhado do jornalista Brady Haran. (fotos cedidas por Haran)
“Sempre tentamos fazer o máximo de filmes quando viajamos para fora, especialmente para um lugar como o Brasil”, diz Haran, que promete pelo menos dez vídeos com “um sabor brasileiro”.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line