Ainda sobre o Enem

Há algum tempo sem aparecer no nosso blogue coletivo, queria usar o espaço hoje para concordar com meu colega Jerry Borges na defesa do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). É claro que ocorreram graves problemas na execução da prova este ano, que esperamos não ocorram mais de 2010 em diante.

Mas considero ser importante separar os aspectos técnicos e operacionais das questões políticas e acadêmicas que fundamentam as mudanças na prova. Neste sentido, é fundamental pensar o novo Enem no quadro da expansão do ensino público superior do país, que, se bem encaminhado, pode de fato democratizar o acesso às universidades públicas.

É claro que o Enem não será utilizado apenas para o ingresso nestas universidades. Mas, na medida em que a mudança na prova vem acompanhada por um esforço real no aumento de vagas para alunos em cursos em todo o país e do estabelecimento de um programa efetivo de educação a distancia, ele é peça-chave neste processo.

A expansão do acesso ao ensino superior público no Brasil acontece em um momento de retração das universidadesem vários países

Não custa lembrar que a expansão do acesso ao ensino superior público e gratuito no Brasil acontece em um momento de retração das universidades em vários países, abalados com o impacto da crise econômica em seus sistemas universitários. Ao longo deste ano, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas levou várias vezes à mídia a questão da manutenção das universidades de Portugal, para além da preocupação com o número e a frequência dos alunos naquele país. Mês passado, o dublê de ator e governador Arnold Schwarzenegger anunciou o aumento de 32% nas mensalidades das universidades públicas (públicas!) da Califórnia. Acompanham a medida outras igualmente arrepiantes, como a demissão de professores e funcionários e o acúmulo de alunos em salas de aula, chegando a 300 alunos por turma em algumas disciplinas.

Diante deste quadro, entrar hoje, em pleno 29 de dezembro no site de mercado de trabalho do Prossiga e ver a oferta de 502 vagas cadastradas para docentes é perspectiva por demais alentadora para não ser comemorada. Comemorar e acompanhar: este esforço só terá válido se a qualidade de ensino e pesquisa dos cursos de graduação e pós-graduação permanecer a marca registrada das universidades federais brasileiras.


Keila Grinberg
Departamento de História
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro