Em que palco do mundo seis prêmios Nobel podem ser vistos com sutiãs no rosto? Ou, ainda, usando chapéus com penduricalhos que imitavam bactérias?
Na véspera da revelação dos laureados do maior prêmio científico do mundo (a partir da próxima segunda-feira), a cena só pode acontecer em um lugar: no cada vez mais celebrado – e engraçado – Ig Nobel, cerimônia da comunidade científica que premia os trabalhos que, segundo o slogan, “fazem primeiro rir e depois pensar”.
Pois é: ontem, em um teatro da Universidade Harvard (Estados Unidos), seis vencedores do prêmio Nobel participaram da 21ª edição do evento, que teve como mote as bactérias (com direito a uma ópera em homenagem ao micro-organismo que adotou, como coadjuvantes, os renomados cientistas vestidos com o chapéu-bactéria).
Bicampeão
E a animada edição da noite de quinta-feira teve até bicampeão. O grupo do cientista japonês Toshiyuki Nakagaki – vencedor de 2008 na categoria Ciência Cognitiva por mostrar que microrganismos ameboides são capazes de resolver quebra-cabeças – foi contemplado, desta vez, na categoria Transporte: sua equipe provou, em artigo publicado na renomada Science, que micróbios parentes da ameba (os micetozoários) podem se organizar de modo a solucionar problemas da malha rodoviária de Tóquio.
Como eles fizeram isso? Colocando flocos de aveia em uma superfície molhada com desenho similar aos arredores da capital japonesa. Segundo o resumo da experiência, “[os pesquisadores] assistiram [às amebas] se auto-organizarem, difundirem-se e formarem uma rede equivalente em termos de eficiência, confiabilidade e custo às redes ferroviárias reais de Tóquio”.
Tudo divertido, mas onde entra o sutiã nessa história?
Bom, em 2009 a vencedora do Ig Nobel na categoria Saúde Pública foi a americana Elena Bodnar, criadora do sutiã que, rapidamente, pode ser convertido em duas máscaras de gás. Este ano, Elena voltou à premiação, agora para mostrar a sua peça fabricada e licenciada comercialmente. Para demonstrar como de fato se usa o sutiã-máscara, a cientista convocou os prêmios Nobel que estavam perfilados no palco. O resultado da farra está no vídeo abaixo (em inglês).
Palavrões, montanha-russa e meias para fora do sapato
O restante da premiação manteve o humor. O Ig Nobel da Paz foi para o grupo do psicólogo Richard Stephens, da Universidade de Keele (Reino Unido). Eles provaram que falar palavrão após se machucar realmente alivia a dor. A pesquisa, publicada no periódico científico Neuroreport, propôs a voluntários que colocassem suas mãos em uma água muito gelada e – enfim – proferissem palavrões.
A pesquisa mostrou que, realmente, quem esperneou sentiu menos incômodo. A sugestão de explicação é a seguinte: a redução da sensação de dor pode ocorrer pela indução do organismo (em função dos berros) a uma resposta de luta ou fuga, que anularia o vínculo entre o medo da dor e a percepção da dor.
O Ig Nobel de Medicina também foi para psicólogos: Simon Rietveld e Ilja van Beest. O estudo da dupla diz que a asma pode ser aliviada com passeios em montanhas-russas.
O prêmio de Física foi para o grupo da epidemiologista Lianne Parkin, da Universidade de Otago (Nova Zelândia), que levou a sério uma anedota popular no país segundo a qual uma estratégia eficiente para não escorregar no gelo é colocar as meias por cima do sapato.
Sexo oral entre morcegos
A pesquisa que causou frenesi adolescente na noite de ontem, sem dúvida, foi a do grupo do pesquisador chinês Min-Tan, do Instituto Entomológico de Guangdong (China). Eles ganharam o Ig Nobel de Biologia pela improvável pesquisa que descreveu, pela primeira vez, como acontece o sexo oral entre morcegos. O artigo saiu no conhecido periódico científico PLoS One.
A lista de vencedores ainda conta com:
- Ig Nobel de Engenharia: Grupo liderado por Karina Acevedo-Whitehouse (Instituto de Zoologia de Londres), que desenvolveu um método de coletar fluidos de baleia com helicópteros de controle remoto.Ig Nobel de Administração: Grupo de Alessandro Pluchino (Universidade de Catânia, Itália), por demonstrar matematicamente que as empresas seriam mais eficientes se as promoções a novos cargos fossem aleatórias. Ig Nobel de Saúde Pública: Grupo de Manuel Babeito (Escritório de Segurança e Saúde Industrial, Estados Unidos), por provar experimentalmente que micróbios aderem mais facilmente à face de homens barbados – tornando-os assim potencialmente perigosos para o centro de pesquisa.Ig Nobel de Química: Grupo de Eric Adams (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), por desmistificar a crença de que água e óleo não se misturam.
Ig Nobel de Economia: Bancos Goldman Sachs, Lehman Brothers e outras instituições, por promoverem investimentos na economia mundial que aumentam ganhos e diminuem os riscos.
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line