Quando tive a ideia de fazer um filme documentário sobre raios, a primeira questão que me veio à mente foi: não quero fazer mais um documentário sobre raios como os que existem no exterior, que são vistos apenas pelas pessoas da área. Fragmentos de paixão, o primeiro filme que dirigi e roteirizei, nasceu daí, da vontade de fazer algo diferente que levasse os raios para as telas de cinema, em um filme que misturasse reflexão e informação e pudesse despertar o interesse de todos. Os cursos que fiz no exterior de cinema e telejornalismo foram o empurrão que faltava para pensar em uma nova forma de divulgar a ciência no meio audiovisual, que misturasse ambos os conceitos.
Cinco anos depois, concluímos um filme que mostra a jornada de um pesquisador de raios – Osmar Pinto Junior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), meu pai – em torno de seis vidas que foram afetadas por raios de formas completamente diferentes. Mas o que o filme também traz nas entrelinhas é a jornada de uma jornalista especializada em ciência – Iara Cardoso, diretora de Fragmentos de paixão, no caso eu – que, em busca de alcançar a difusão da ciência, percorreu diversos obstáculos para fazer com que os raios pudessem riscar as telonas.
O Brasil é campeão mundial em incidência de raios, com 50 milhões de registros do fenômeno por ano. Busquei trazer para o filme o olhar do cinema de ficção para documentar essa realidade, alternando momentos de reflexão e informação. As seis vidas acompanhadas no filme foram contrastadas com a de Osmar Pinto Junior e a realidade que cerca um cientista que é apaixonado por raios. Dessa forma, procurei desconstruir a figura do cientista, tirá-lo da posição inatingível comumente retratada nos documentários.

- O Brasil é campeão mundial em incidência de raios, com 50 milhões de registros do fenômeno por ano. (foto: Jacomo Dimmit Piccolini/ Elat-Inpe)
O objetivo do projeto é fazer com que as pessoas se interessem por raios e, com isso, passem a se proteger, melhorando o quadro atual do problema: no Brasil, 130 pessoas por ano morrem atingidas por eles e a maioria devido à falta de informação.
Apesar de fatais, para alguns, os raios também são vistos como fonte de paz ou até mesmo uma circunstância que pode levar à paixão. Para muitos, a beleza deles atrai o olhar e faz valer a pena ficá-los vendo ao vivo iluminando os céus.
Busquei tratar no filme dessas e de outras questões que considero importantes, como o destino e o fato de um instante poder mudar todo o rumo de uma vida.
E, para instigar (ainda mais) a curiosidade do leitor e fazê-lo não deixar de ver o filme, adianto que ele traz no início uma pergunta que só é revelada no fim.
Fragmentos de paixão estreia em outubro, mas o trailer está disponível. Veja abaixo:
Iara Cardoso é jornalista e tem pós-graduação em jornalismo científico pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. Fez especialização em cinema digital pela New York Film Academy (NYFA)/Universal Studios e em Jornalismo para TV Digital pelo canal NBC News/NYFA.