Durante mesa-redonda na reunião anual da SBPC, os físicos Alberto Passos Guimarães (CBPF) e Celso P. de Melo (UFPE) e o presidente da Capes, Jorge Guimarães (da esquerda para a direita), discutiram estratégias para garantir uma educação científica de qualidade aos jovens brasileiros (foto: Joana Paula Siqueira).
Alimentos transgênicos, mudanças climáticas, pesquisa com células-tronco. A crescente exposição do público a temas científicos evidencia a necessidade de formar cidadãos capazes de refletir e opinar sobre decisões relacionadas à ciência. Diante dessa realidade, pesquisadores reunidos em uma mesa-redonda na reunião anual da SBPC buscaram levantar estratégias para garantir uma educação científica de qualidade aos jovens brasileiros. Entre as sugestões destacam-se a necessidade de proporcionar o contato com a ciência já nos primeiros anos de vida da criança, de replicar experiências bem-sucedidas nesse sentido e de repensar o modelo universitário, adequando-o às necessidades dos novos estudantes.
“Precisamos aproveitar a janela demográfica que existe no Brasil. Somos uma das poucas nações cuja população ainda será majoritariamente jovem nos próximos 30 ou 40 anos”, afirmou Celso P. de Melo, físico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e participante da mesa. O pesquisador destacou o que chamou de clima otimista. Segundo Melo, o acesso universal ao ensino fundamental e a maior freqüência no ensino médio garantem que o país tenha jovens cada vez mais bem formados. “É claro que estamos longe da situação ideal e que muitas crianças vão para a escola apenas para receber a merenda. Mas ainda assim é uma vitória. Antes as crianças passavam fome em casa.”
Melo disse que esses jovens egressos das escolas estão buscando os cursos de nível superior e propôs que a universidade seja repensada. “Será que dois ou três anos de contato com a cultura universitária não seriam suficientes em certos casos? Um dono de posto de gasolina, por exemplo, se beneficiaria mais de um conhecimento amplo de administração que de uma formação em engenharia”, ponderou, lembrando que, em alguns países, a municipalização do ensino superior garante o contato inicial com a cultura universitária.
Interferência pela qualidade
Entre as sugestões dadas pelos pesquisadores para melhorar a educação científica no país está a necessidade de proporcionar o contato com a ciência já nos primeiros anos de vida da criança (foto: José A. Warletta).
Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), destacou a necessidade da participação dos municípios para que o desafio de melhora da educação básica seja superado. A ênfase no tema é fruto da nova incumbência da Capes: a instituição agora propõe e fomenta ações ligadas a esse nível de ensino através do projeto batizado de Nova Capes.
“O sucesso da Capes na pós-graduação foi obtido com a interferência da instituição nas universidades. Hoje, todos os cursos de pós-graduação recorrem à nossa avaliação”, afirmou. O desafio agora é promover a aceitação dessa interferência (nas questões ligadas ao ensino básico) por parte dos municípios. Segundo Guimarães, a resistência inicial tem sido vencida com parcerias, nas quais a instituição garante o fomento, mas ganha autonomia para cobrar resultados.
O sucesso da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, que este ano teve 18 milhões de inscritos, também foi lembrado pelo presidente da Capes. Segundo Guimarães, há planos de estimular os vencedores da competição a continuarem seus estudos de matemática dando a eles bolsas de mestrado em instituições como o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
Além disso, as deficiências apontadas nas provas servirão de base para planejar novos conteúdos para os livros didáticos. “Também estamos planejando a criação de comissões de pesquisadores para avaliar os livros de forma a reduzir os erros e parcerias com as editoras universitárias para baratear a produção. E queremos que o modelo da olimpíada de matemática sirva de inspiração para a criação de uma olimpíada de ciências”, disse.
Guimarães citou ainda a proposta de integração das escolas públicas com o chamado sistema S de educação profissional, que inclui o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac), entre outros. “Os alunos das escolas públicas poderiam receber educação ‘tradicional’ na parte da manhã e profissionalizante na parte da tarde”, sugeriu. O Programa Ciência Hoje de Apoio à Educação também foi lembrado pelo presidente da Capes, que afirmou que a instituição busca maneiras de levar a experiência para todo o país.
Mariana Ferraz
Especial para Ciência Hoje On-line
17/07/2008