Laboratório nano, trabalho macro

Nem foi preciso entrar no Laboratório Multiusuário de Nanociência e Nanotecnologia (Labnano) para compreender: construir um empreendimento desse porte dá trabalho.

A dificuldade de abrir a porta do lugar – e a facilidade com que ela se fecha, quando finalmente entramos no laboratório –é um cartão de visita do que está por vir. Explica-se: como se trata deum laboratório ‘nano’, qualquer partícula de poeira pode prejudicar umaatividade, de modo que é fundamental ‘empurrar’ a sujeira para fora doambiente. 

Assim como acontece em laboratórios de alta precisão, a pressão dolocal deve ser maior do que a externa, para que o deslocamento de ar (ede sujeira) faça um movimento de dentro para fora.

O Labnano fica no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro. Funciona desde dezembro de 2010 e, além de contar com equipamentos de observação e construção de materiais nanométricos, tem como característica principal a função ‘multiuso’. Ou seja: toda a comunidade científica pode explorar o laboratório.

Pois bem, a CH On-line visitou o recém-inaugurado laboratório, que ainda está em processo de ajustes para funcionar ‘em velocidade de cruzeiro’. Por exemplo: a nanolitografia por feixe de elétrons (técnica que permite ‘desenhar’ estruturas nanométricas) precisa, ainda, ser regulada. Há um ruído eletromagnético, proveniente de toda a estrutura do CBPF, que tem que ser anulado.

Esses problemas, no entanto, nem se comparam com os obstáculos superados desde o início do projeto, pensado em 2005 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.  

Veja a galeria de fotos do Labnano em todas as fases:
da construção ao funcionamento

O que fazer quando se percebe, por exemplo, que o prédio onde será levantado um laboratório de nanotecnologia vibra mais do que se deseja? A solução para erguer o Labnano foi tão prática quanto trabalhosa: cavar quatro metros o chão, firmar um bloco inercial de concreto e subir uma unidade totalmente ‘descolada’ da estrutura inicial, algo como uma caixa dentro de outra caixa.

E se, ao cavar, percebe-se que um dos mais importantes centros de física do país está sobre um lençol freático? Quanto mais se cava, mais água aparece. Mais trabalho: é necessário drenar a água e desviar o curso do lençol.

Em suma: para construir um laboratório nano, é necessário um trabalho macro. Foi essa a conclusão a que chegamos em conversa com o cientista e coordenador do Labnano André Pinto. Assista à entrevista abaixo.

O Labnano

Aplicações

Laboratório multiuso


Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line