Mãos de césio: os trabalhadores por trás da tragédia

Em 1987, a América Latina viveu seu primeiro e maior acidente radiológico, quando 20 gramas de césio-137, presentes dentro de um aparelho de radioterapia desativado, caíram nas mãos de dois catadores de sucata de Goiânia. O elemento radioativo despertou a atenção das pessoas por seu brilho azul e logo desencadeou um processo de contaminação.

“As mãos foram as primeiras partes do corpo afetadas nas vítimas do césio”

Quase vinte e cinco anos depois, a exposição fotográfica ‘Mãos de césio’ relembra essa tragédia, homenageia as suas vítimas e também os trabalhadores que atuaram na descontaminação da cidade.

“As mãos foram as primeiras partes do corpo afetadas nas vítimas do césio e também simbolizam o trabalho heroico dos que colocaram a mão na massa para limpar o lixo radioativo”, explica a socióloga Gomes de Oliveira, coordenadora do evento.

A mostra reúne mais de 20 painéis com depoimentos de pessoas que estiveram envolvidas no acidente e fotos históricas dos acervos da Associação das Vítimas do Césio 137 de Goiânia (AVCésio), do Programa Memória Roberto Pires e do Centro de Pesquisa e Documentação do Jornal do Brasil (CPDoc JB).

Mãos de césio
A fotografia mostra policiais militares em cordão de isolamento para conter moradores de Goiânia que tentavam impedir o enterro de uma das vítimas do césio-137. (foto: CPDoc JB)

As imagens apresentam os efeitos físicos do césio sobre as suas vítimas e também o preconceito enfrentado até hoje. Um dos exemplos mais fortes da segregação foi capturado em uma fotografia que mostra policiais contendo a população goianense, que, com medo da contaminação, tentava impedir o enterro de uma das vítimas na cidade.

A exposição revela ainda detalhes curiosos sobre as soluções que foram cogitadas para o lixo nuclear depois do acidente. Uma das ideias discutidas, que chegou a ser aprovada pelo então presidente José Sarney, era estocar os rejeitos na Serra do Cachimbo, no Pará, em uma área militar próxima à reserva indígena dos Kayapós.

Reflexão na tela do cinema

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O festival Urânio em Movi(e)mento reúne 40 filmes internacionais sobre a temática da energia nuclear. (foto: Sofia Moutinho)

A exposição de fotografias faz parte das atividades do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear na América Latina – Urânio em Movi(e)mento. O evento, que acontece de 21 a 28 de maio no Rio de Janeiro, vai contar com 40 filmes internacionais e três produções brasileiras sobre a energia nuclear.

Entre os filmes nacionais, está o longa Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia, de Roberto Pires, que faz uma dramatização do acidente. Suspeita-se que o próprio diretor do filme, falecido em 2001 em decorrência de um câncer, tenha sido uma das vítimas do césio.

“O festival pretende informar a sociedade e estimular as produções independentes sobre energia nuclear e todo o ciclo nuclear, especialmente sobre exploração, mineração e o processamento de urânio”, afirma Oliveira.

Depois do festival, será criada uma cinemateca com todo o material enviado, batizada de ‘Arquivo amarelo’, em referência à cor usada para a energia nuclear. A ideia é disponibilizar os filmes para todas as escolas, universidades e instituições em geral interessadas nessa temática tão polêmica.

Mãos de césio
1 a 29 de maio
Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, Santa Teresa

1º Festival Urânio em Movi(e)mento
21 a 28 de maio de 2011
Rio de Janeiro, Centro Cultural Parque das Ruinas e Centro Cultural Laurinda Santos Lobo

02 a 09 de junho de 2011
São Paulo, Centro Cultural Matilha

 
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line