Quando os portugueses desembarcaram em terras brasileiras, em 1500, a divisão do território em tribos indígenas deu lugar à constituição de povoados, vilas e cidades. A evolução dessa nova forma de povoamento no Brasil é o tema do Atlas Digital da América Lusa, uma página virtual com mapas interativos que permitem ao usuário obter a localização geográfica e outros dados relacionados aos vários núcleos urbanos do período colonial.
O projeto, desenvolvido por um grupo de estudos liderado pelo historiador Tiago Gil, professor do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), pretende recriar o cenário territorial do Brasil ao longo de três séculos: de 1500 a 1808, quando a corte portuguesa, fugindo das tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte, transferiu-se para a então colônia.
A ideia de criar o Atlas nasceu em 2007, quando Gil fazia seu doutorado em história social e sentiu falta de um apoio cartográfico para o período colonial. Mas o projeto só tomou forma em 2009 e, desde agosto de 2011, está disponível na internet em uma primeira versão, que ainda não oferece todas as ferramentas planejadas.
Além de informar o nome dos núcleos urbanos, o sistema vai fornecer dados sobre sua população, seu governo e até sobre guerras e revoluções ocorridas ali. Os mapas interativos funcionam de modo bastante similar – embora com nível de detalhamento menor – ao Google Maps, serviço que permite localizar e ampliar a visualização de localidades geográficas em imagens de satélite.
O site inclui também mapas dinâmicos (ainda em fase de finalização), que mostram como o povoamento evoluiu ao longo dos três séculos analisados. “No futuro, serão inseridos mapas temáticos, que mostrarão, por exemplo, onde eram as plantações de cana ou de café em todo o território”, diz Gil.
A criação dos mapas é feita de modo simples, por meio de um software livre e gratuito chamado I³Geo. “Nós abastecemos um banco de dados com as coordenadas do local e o programa marca o ponto onde ele está”, explica o pesquisador.
O Atlas foi construído com base em mapas do período colonial, documentos de concessão de terras, dados demográficos da época e outros registros históricos. As informações foram obtidas a partir de pesquisas em acervos como os da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e do Arquivo Histórico do Exército e por meio de parcerias com diversas instituições, como as universidades federais do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte e do Paraná.
Aberto à colaboração
O site tem perfil colaborativo: qualquer pessoa mundo afora pode ajudar a completar os mapas. Os dados são apurados pela equipe e, então, o crédito é dado ao colaborador. “Sem essa ajuda, seria praticamente impossível retratar um período de três séculos”, conclui.
Além dos mapas, o usuário conta com uma Biblioteca de Referências, onde é possível incluir informações e criar verbetes sobre o período colonial, nos moldes da Wikipédia. Também serão disponibilizados material didático e apresentações de slides para utilização por professores em sala de aula.
A equipe produzirá ainda um material off-line capaz de atender a quem não tem acesso à internet. Segundo Gil, o uso de diferentes formas de apresentação do conteúdo tem o objetivo de alcançar diversos públicos, desde alunos do ensino fundamental a pesquisadores.
Ana Carolina Correia
Ciência Hoje On-line