Muito além do Pacman

Se você não anda familiarizado com as novidades no mundo dos video games e os últimos inimigos que enfrentou não passavam de fantasminhas coloridos, vai ficar chocado quando se deparar com World of Warcraft, Uncharted e The Sims. Estes são alguns dos jogos que revolucionaram a linguagem dos consoles e trouxeram uma nova espécie de narrativa ao universo virtual.

Novas técnicas surgem a cada dia, mas não só os avanços tecnológicos estão por trás dessas transformações. O modo como história e ‘jogabilidade’ convergiram possibilitou uma quebra de barreiras. Hoje, um jogo virtual sem um roteiro elaborado não está com nada. 

“Jogos podem fazer o que o cinema não pode; neles, o jogador pode participar da ação”

“Jogos podem fazer o que o cinema não pode; neles, o jogador pode participar da ação”, ressaltou o especialista em jogos virtuais Noah Wardrip-Fruin, professor da Universidade de Santa Cruz, na Califórnia (EUA), no seminário Regiões narrativas – cultura e subjetividade no mundo virtual, realizado na semana passada (24-25/8), na Casa da Ciência (UFRJ), no Rio.

Wardrip-Fruin citou Uncharted 2 como um dos maiores símbolos da evolução da estrutura narrativa nos jogos virtuais. Na história, Nathan Drake, um caçador de tesouros, viaja pelo mundo para descobrir os mistérios da fragata Marco Polo. Até aqui, nada de excepcional.

O que separa a saga – que em novembro ganhará sua terceira parte – do resto dos jogos é o quão próximo ao cinema ela está. “Uncharted tem muitos aspectos cinematográficos, como a tensão entre os personagens e as muitas cenas de história, mas também os aspectos clássicos de jogo, em que o usuário pode atirar, pular, escalar”, afirmou o especialista.

Veja o trailer de Uncharted 2

Outro exemplo dessa nova safra são os jogos on-line para múltiplos jogadores – ou MMO, para os íntimos. World of Warcraft é o maior expoente desse gênero. Para o professor americano, os jogos desse tipo são um enorme avanço para as histórias.

Nele, os usuários atuam juntos em um mundo medieval cheio de monstros e personagens mágicos. “Nesses jogos você tem que agir sabendo que toda a atitude que tomar pode, e vai, mudar o rumo da trama. Fugindo daquela história de que tudo é programado linearmente.”

“Nesses jogos você tem que agir sabendo que toda a atitude que tomar pode, e vai, mudar o rumo da trama”

The Sims também virou referência no quesito novas narrativas. Nele, você cria seu personagem, o lugar onde ele mora e escolhe onde vai trabalhar. Depois de tudo criado, os sims, termo usado para se referir aos personagens, avisam quando estão com fome, sono, tristes ou quando precisam usar o banheiro. Ou seja, você é roteirista e criador da sua própria história.

E o que jogos tão diferentes, para públicos tão distintos, têm em comum? Todos são filhos de uma nova geração que entende que o jogador precisa ser atuante e ter liberdade de escolha, e que o velho conceito do labirinto do Pacman não está com nada.      

Ana Carolina Correia
Ciência Hoje On-line