Não seja ‘tão’ cientista

O tema: uma espécie de salmão que vive no norte da Noruega se reproduz até seis vezes, contrariando o padrão reprodutivo desses peixes – salmões só conseguem procriar uma vez na vida, pois morrem logo depois. A tarefa: produzir um vídeo curto sobre o tema que consiga cativar a atenção do grande público.

Para muitos – sobretudo para aqueles que não são especialistas –, o assunto dos salmões é simplesmente… chato. Admitida essa hipótese, como, então, torná-lo interessante? A pergunta, na verdade, pode ser mais ampla: como tornar filmes sobre ciência cativantes para o público em geral?

O biólogo marinho – e também cineasta – Randy Olson, dos Estados Unidos, dedicou os últimos anos a esse desafio. Após abandonar uma bem-sucedida carreira de professor na Universidade de New Hampshire, Olson resolveu voltar à graduação, desta vez em cinema.

Hoje, produz documentários e vídeos – muitos deles famosos – sobre temas científicos e publicou um livro sobre divulgação científica intitulado Don’t be such a scientist: talking substance in an age of style (‘Não seja tão cientista: falando de assuntos complexos em uma era de estilo’, em tradução livre).

Não contente em apenas produzir vídeos divertidos sobre ciência, Olson também ministra pequenos cursos em universidades mundo afora para ensinar o que faz de melhor. O último foi na Universidade de Tromso, na Noruega, onde uma aluna fez um vídeo justamente sobre os salmões mencionados no primeiro parágrafo – lançando mão do acervo musical do grupo Bee Gees.

Veja o vídeo da aluna norueguesa sobre os salmões que se reproduzem até seis vezes (em inglês)

Olsen defende a ideia de que se comunicar com o grande público é uma das maiores dificuldades dos cientistas – especialmente em relação a alguns assuntos polêmicos, como mudanças climáticas. O segredo, segundo o biólogo-cineasta, é: não tentar se aprofundar no tema, apenas chamar a atenção e cativar o público em torno dele.

Para tal, sugere recursos como o humor, a sátira e a fuga do óbvio. “Você tem que raciocinar de trás para frente”, conta Olson em uma entrevista ao jornal americano New York Times. “E as pessoas não costumam fazer isso. Por isso a maioria dos filmes sobre ciência e meio ambiente é tão chaaaata: são apenas pessoas relatando fatos sobre um assunto”.

Abaixo, assista ao trailer (em inglês) do filme mais famoso de Olson, um falso documentário sobre como fazer um filme abordando o aquecimento global. Uma metanarrativa que, de modo hilário, fala muito do objeto a ser explorado – ou seja, a ciência e a divulgação científica.

Isabela Fraga
Ciência Hoje/ RJ
Thiago Camelo

Ciência Hoje On-line