Pelo uso pacífico da energia atômica

Logotipo da IAEA

No ano em que se completam 60 anos dos bombardeios atômicos no Japão, a física nuclear ganha novo destaque ao ser aplicada para fins diametralmente opostos. A Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), instituição vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU) que garante o uso pacífico e seguro dessa forma de energia, é a ganhadora do Nobel da Paz de 2005. A agência dividirá o prêmio com seu diretor-geral, o diplomata egípcio Mohamed ElBaradei.

 
Sediada em Viena (Áustria), a IAEA foi fundada em 1957 com o objetivo de modificar o destino das pesquisas atômicas, de maneira a empregá-la a serviço da humanidade. Mohamed ElBaradei é membro da instituição desde 1984, após uma carreira como diplomata e professor de direito internacional. As missões da agência e de seu diretor não consistem somente em verificar se os países estão produzindo armas de destruição em massa ilegalmente, mas também em promover o desenvolvimento da tecnologia nuclear para atender a necessidades cotidianas das populações, como a geração de energia elétrica. Além disso, a organização garante a segurança nos processos de armazenamento e transporte do material radioativo, bem como de seus resíduos.
 
Nascido em 1942 no Egito, Mohamed ElBaradei formou-se em direito pela Universidade do Cairo e doutorou-se em direito internacional pela Universidade de Nova York (EUA). Começou a trabalhar para o serviço diplomático egípcio em 1964 e serviu a missões para as Nações Unidas em Nova York e Genebra, encarregado de questões políticas, legais e sobre controle de armas. Em 1980, após deixar o serviço diplomático, foi professor na Universidade de Nova York e, paralelamente, começou sua carreira na IAEA. Ao longo de sua carreira, tornou-se intimamente ligado aos processos das organizações internacionais, particularmente nos campos de paz internacional e segurança e de aplicação do direito internacional – temas sobre os quais publicou diversos artigos e livros.
 

Mohamed ElBaradei, diretor-geral da IAEA (imagens: reprodução)

“ElBaradei tem personalidade forte, é bastante ponderado e atencioso”, avalia o físico Odair Dias Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear, que conheceu o laureado ao representar o Brasil em reuniões da IAEA. “Ele conhece muito bem as questões do Brasil e tem uma relação muito boa com nossos embaixadores.”

 
Em pronunciamento após a nomeação, ElBaradei ressaltou a urgência de deter a proliferação do terrorismo nuclear para construir um mundo livre de armas desse tipo no futuro. “A paz internacional não pode se basear em intimidação ou rivalidade, mas no entendimento e na solidariedade humana.” Ele acredita que uma cooperação internacional abrangente exerce papel fundamental para que essa meta seja alcançada.
 
A IAEA conta com a atuação de um Comitê de Governadores composto por membros de 35 países – entre os quais o Brasil –, que se reúnem cinco vezes por ano, principalmente para discutir medidas de caráter administrativo, técnico e político. Entre os temas discutidos, estão o controle da utilização de materiais nucleares, equipamentos e tecnologias.
 
“ElBaradei tem apoiado sistematicamente as decisões do Comitê no sentido de não apontar o nome do Irã como um país infrator das normas da agência, o que abriria as portas para que o Conselho de Segurança da ONU fizesse uma intervenção nesse país”, aponta Odair Dias Gonçalves. “Ele tem assumido a postura de evitar um conflito maior e de impedir que as coisas caminhem para um desfecho muito radical.”
 
Para realizar suas tarefas de inspeção, pesquisa e segurança, a IAEA dispõe de escritórios no Canadá, nos Estados Unidos, no Japão e na Suíça e de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais de mais de 90 países.
 
Não é a primeira vez que um membro ou um organismo das Nações Unidas ganha o Nobel da Paz. Entre os laureados passados, estão Kofi Annan, secretário-geral da ONU (2001), a Unicef (1965) e a Organização Internacional do Trabalho (1969). A cerimônia de premiação ocorre acontece, como todo ano, no dia 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel, na prefeitura de Oslo, na Noruega.

Leia em primeira mão um artigo de Odair Dias Gonçalves
e Ivan Almeida sobre as aplicações da energia nuclear, a
ser publicado em Ciência Hoje 220. (formato PDF, 262 KB)

Confira todos os ganhadores do Nobel 2005

Lia Brum
Ciência Hoje On-line
07/10/05