Premiado simplificou teoria econômica

O americano Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008 (foto: Universidade de Princeton).

O Prêmio Nobel de Economia deste ano será concedido ao economista norte-americano Paul Krugman, professor da Universidade de Princeton e colunista do jornal The New York Times. Ele foi premiado por sua análise dos padrões de comércio internacional e de localização geográfica da atividade econômica – questões fundamentais para a economia mundial –, que permitiu abordar de forma simples temas complexos ligados às relações comerciais entre países.

Segundo a Real Academia Sueca de Ciências, Krugman introduziu uma nova teoria que explica algumas divergências verificadas na última metade do século 20 – particularmente entre países ricos – nos padrões de comércio.

A teoria tradicional sustentava que o comércio internacional se baseia em diferenças entre os países em relação ao acesso à tecnologia ou a fatores de produção (como a oferta de mão-de-obra e de capital), o que leva algumas nações a exportarem produtos agrícolas enquanto outras exportam bens industriais. No entanto, observou-se que um mesmo país poderia importar e exportar os mesmos produtos, o que tornava inválida a justificativa de que o comércio se estabelecia apenas devido a essas diferenças entre os países.

Em 1979, Krugman publicou um artigo em que descrevia um modelo para explicar esses novos padrões comerciais. Ele mostrou que o tamanho do mercado poderia ser um fator determinante para dar vantagens a um país em relação ao outro em suas relações comerciais. Essa abordagem é baseada na premissa de que a produção em massa diminui o custo de mercadorias e serviços (conceito conhecido como economia de escala) e na demanda dos consumidores por uma oferta diversificada de produtos.

Geografia da atividade econômica
Em pesquisas posteriores, Krugman mostrou que o modelo desenvolvido inicialmente para o comércio internacional também poderia ser usado para analisar a localização da atividade econômica, o que permitiu integrar dois diferentes campos de pesquisa. Segundo o laureado, o padrão de localização geográfica das empresas dentro de um país leva em conta a oposição entre o uso da economia de escala e os custos com o transporte das mercadorias.

Krugman argumenta que as empresas localizadas em áreas mais populosas poderiam fazer melhor uso da economia de escala, que resultaria em preços mais baixos para os consumidores e maior diversidade na oferta de mercadorias. Isso acentuaria o bem-estar dos consumidores, que tenderiam a mudar para regiões com mais habitantes, aumentando, assim, a mão-de-obra nesses locais, o que realimentaria o ciclo de concentração. Esse processo de concentração de empresas em determinadas áreas poderia ser disparado pelo custo mais baixo do transporte de mercadorias.

O mecanismo descrito por Krugman poderia explicar a explosiva urbanização vivida hoje no mundo, com o rápido crescimento de grandes cidades rodeadas por áreas rurais cada vez menos povoadas.

Escolha polêmica
O anúncio do prêmio gerou reações bem divergentes no Brasil. Para o economista Eustáquio Reis, pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Krugman teve uma contribuição fundamental para a teoria do comércio internacional. “Sempre muito criativo, ele formalizou conceitos que trouxeram uma abordagem simplificadora para problemas complexos”, diz Reis à CH On-line. “Foi um prêmio para a simplificação da teoria econômica.”

Para Reis, a escolha foi supreendente pelo fato de Krugman ser relativamente jovem – tem 55 anos – e politicamente engajado. “Ele é um crítico severo do governo Bush e apóia claramente a candidatura de Barack Obama”, lembra. E completa: “Foi um escolha politizada em um momento político crítico.”

Já o economista Reinaldo Gonçalves, pesquisador do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que Krugman não criou um nova teoria, apenas formalizou um modelo com conceitos que já existiam. “Ele é um profissional que produziu muito ao longo do último quarto de século, mas sua contribuição não foi fundamental”, afirma à CH On-line Gonçalves, que foi revisor técnico do livro de Krugman Introdução à economia, lançado no Brasil em 2006.

Para o pesquisador da UFRJ, o prêmio deve-se não tanto ao mérito científico dos estudos de Krugman, mas à sua alta produtividade, ao seu senso de oportunidade para tratar de temas relevantes e à grande capacidade de divulgação de seus trabalhos, incluindo sua projeção na mídia.

Gonçalves faz uma comparação com o conceito de diferenciação de produto, existente em economia. “Basicamente, você pega um produto velho e coloca uma nova embalagem para vendê-lo como novo. Foi isso que o Krugman fez e o pessoal do Nobel comprou o produto. Ele foi um grande marqueteiro.” 

Thaís Fernandes 
Ciência Hoje On-line
13/10/2008