Com criatividade, simplicidade e destreza?
Se em prosa sobre ciência é difícil escrever,
Imagina então em versos: como se há de fazer?
Pois a literatura de cordel
Grande manifestação popular
Sabe como ninguém divulgar
A ciência da terra, mar e céu
E agora um livro de rara beleza
Traz cordéis de Gonçalo, Raimundo e Edmilson,
Versando sobre as maiores proezas
De Einstein, Oswaldo Cruz e Isaac Newton
No Brasil, são raras as expressões artísticas que tratam de descobertas científicas. Uma exceção é a literatura de cordel, uma das mais importantes manifestações culturais do país, que faz a divulgação da ciência de maneira criativa e acessível. Ao abordar temas ligados à medicina ou astronomia em seus versos populares, os cordelistas mostram que esses assuntos, apesar de complexos, podem servir de inspiração para muitas histórias interessantes.
Uma coletânea de cordéis que tratam de temas científicos acaba de ser lançada: o livro Cordel e Ciência: a ciência em versos populares revela o talento de poetas nordestinos que vêm se dedicando a escrever para grande público sobre a vida de cientistas ilustres, prevenção de doenças, mistérios do Sistema Solar ou a preservação do meio ambiente.
Os organizadores Ildeu Moreira, Luisa Massarani e Carla Almeida buscaram refletir essa diversidade ao dividir os 22 poemas selecionados para o livro em quatro categorias. A mais bem representada é “Os cientistas”, que traz biografias de grandes nomes da história da ciência, como Arquimedes, Galileu Galilei, Isaac Newton e Albert Einstein, além dos brasileiros Santos-Dumont e Oswaldo Cruz.
A filosofia que orienta a divulgação científica feita pelos poetas populares é resumida na “Cartilha do diabético”, escrita pelo poeta Manoel Monteiro: “o poeta cordelista / É sempre um artista eclético / Por isto é que nestes versos / De modo didático e ético / No intuito de ajudar / Vamos desmistificar / O que é ser diabético.”
O apelo popular e o estilo descontraído de escrever versos são algumas das características da literatura de cordel, que teve sua maior manifestação no Nordeste brasileiro. Escrito em forma de folhetos, antigamente encontrados em feiras, praças e fazendas, o cordel tem uma variedade temática que aborda desde política a lições moralistas e religiosas, passando por críticas sociais, relatos de atos heróicos e acontecimentos históricos. Imagem: Cantadores (autoria desconhecida), cedida pelo Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC).
Mas a intenção dos poetas não é apenas de ajudar ou educar seus leitores . Quando o assunto é meio ambiente, os textos dão um tom de alerta sobre a preocupação dos cordelistas em cuidar da natureza, como em “A natureza e o homem”, de Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. “Precisamos com clareza / e visão objetiva / de medida positiva / a favor da Natureza / preservado-lhe a riqueza / livre da poluição / coibir devastação / cultivar a fauna e flora / mostrar que o problema agora / pertence a nossa Nação.“
Cordel e ciência traz também textos que mostram um país ainda desconhecido pelos seus cidadãos. Em “O poder das plantas na cura das doenças”, Manoel Monteiro ensina como curar ou prevenir certas doenças usando apenas plantas e frutos, além de descrever a riqueza da fauna e flora do Brasil.
A coletânea, publicada pela editora Vieira & Lent, em parceria com o Centro de Estudos do Museu da Vida (Fiocruz), apresenta também cordéis de Edmilson Santini, Eugênio Dantas e Raimundo Santa Helena.