Sábado de química

É sábado, 28 de maio, e faz frio. Duas horas da tarde e os pilotis da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) parecem espantar ainda mais o calor, ao qual os cariocas estão mais acostumados.

Nem o clima nem o fato de ser fim de semana, no entanto, espantaram os alunos do primeiro e segundo ano do ensino médio da universidade. Aliás, eles têm frequentado o local todos os sábados, com um único objetivo: estudar química.

Esses estudantes são os 20 primeiros colocados na Olimpíada de Química do Rio de Janeiro do ano passado. Eles foram convidados pela universidade para se preparar para o próximo desafio acadêmico de suas vidas: a Olimpíada Brasileira de Química.

“Outros estados já dão esse suporte universitário aos alunos há algum tempo e vêm tendo sucesso na competição”, diz André Pimentel, um dos coordenadores do projeto liderado pelo Departamento de Química da PUC.

“A universidade deu início em 2010 à organização da competição regional e pode passar esse conhecimento para frente”, completa o educador, que cita Piauí e Ceará como estados que sabem se preparar bem para a disputa nacional.

Dia de radioatividade

Os alunos presentes à aula são de quatro colégios: Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Pedro II, Unidade Descentralizada do Cefet/RJ em Nova Iguaçu (Cefet-UnED/NI) e Colégio Militar. Somam-se a eles alunos convidados do Santa Marcelina, colégio-parceiro de longa data da PUC.

Assim, cerca de 30 estudantes frequentam o curso. No sábado em que a CH On-line esteve na universidade, 23 alunos (8 meninas e 15 meninos) assistiram à aula do professor de física da PUC Enio Frota da Silveira. O tema? Radioatividade.

“Em geral, tentamos todo sábado trazer um professor diferente para tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes”, conta Pimentel. “Este fim de semana decidimos que o Enio, um professor de física, iria falar sobre radioatividade, um tema que é interdisciplinar.”

“Entre qualquer coisa que podem fazer no sábado, eles preferem vir para cá estudar radioatividade”

A aula de Enio da Silveira narra os primórdios da radioatividade, com especial atenção para a cronologia do assunto. Antoine Henri Becquerel estudando urânio, a passagem da radioatividade natural para a artificial com a família Curie e a evolução da pesquisa até a fatídica bomba.

Depois, Silveira parte para as partículas radioativas propriamente ditas e explica de modo bastante aprofundado (em comparação a aulas convencionais do ensino médio) as diferenças entre as fontes emissoras alfa, beta e gama. Os alunos são interessados, perguntam detalhes sobre cada elemento: “um dia o urânio vai terminar?”, indaga um dos estudantes do IFRJ. 

“Realmente, esses estudantes gostam de química, pense bem, eles, entre qualquer coisa que podem fazer no sábado, preferem vir para cá estudar radioatividade”, fala Pimentel. E ri.

Risada que, de certa forma, é compartilhada pelos adolescentes, que parecem genuinamente estar gostando de tudo aquilo. Sobretudo quando, após duas horas de aula, partem para visitar, na própria PUC, o laboratório Van de Graaff, que, entre outros instrumentos, conta com um poderoso acelerador de partículas.

Enio da Silveira, que lidera o laboratório, mostra aos estudantes empolgados a estrutura do acelerador. “Ele é enorme, vocês veem?”, pergunta o professor, e completa: “Basta mexermos nestes botõezinhos que podemos provocar uma reação parecida com a que vimos na aula.” Os alunos, mais uma vez, riem. Divertem-se. A Olimpíada Brasileira de Química é só em agosto, afinal. 

Assista ao vídeo em que André Pimentel, coordenador do projeto, fala sobre as aulas

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line