Demora alguns segundos até os visitantes do Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque (EUA), se adaptarem ao escuro das salas que abrigam a exposição ‘Criaturas da luz, a bioluminescência na natureza’. A penumbra visa recriar o cenário de uma noite de verão, atmosfera perfeita para se esbarrar com simpáticos vaga-lumes, que piscam em busca do par ideal.
Grupos de crianças e adultos, embalados por uma música de fundo instrumental, são levados a explorar ambientes onde vivem seres bioluminescentes – aqueles que emitem luz fria produzida por meio de uma reação química dentro de seu organismo.
Entender como se dá esse fenômeno, para que serve e conhecer alguns desses animais e seus hábitats são os objetivos da exposição, em cartaz até janeiro de 2013.
Dentre essa fauna diversa, talvez os mais familiares do público sejam os pirilampos. Na exposição, réplicas gigantes desses insetos permitem observar detalhes do seu corpo. Num módulo interativo, os visitantes tentam reproduzir a linguagem dos vaga-lumes, usando pequenas lanternas, a exemplo de como fazem os cientistas que estudam esses animais. Se acertam o padrão de emissão de luz – um verdadeiro código Morse –, recebem respostas dos vaga-lumes machos. Cada espécie possui um ritmo diferente de comunicação.
O passeio também revela outros organismos mais raros e menos românticos, como uma espécie de verme (Arachnocampa luminosa) que habita as cavernas de Waitomo, no norte da Nova Zelândia, reproduzidas na exposição. As larvas produzem um tipo de teia grudenta e luminosa, cujo brilho atrai e encarcera suas presas. O que serve de armadilha para insetos é, para os humanos, um espetáculo da natureza.
O fundo do mar, no entanto, é um dos ambientes mais ricos em seres bioluminescentes: em profundidades abaixo de 700 metros, estima-se que até 90% dos animais emitam luz, seja para caçar, acasalar ou ao movimentar-se. Mas apenas uma pequena fração dessa fauna é conhecida.
Em águas mais rasas, como na baía de Porto Mosquito, em Porto Rico, basta passar as mãos pela superfície para deixar um rastro luminescente. Lá vivem seres unicelulares chamados de dinoflagelados que brilham em contato com outros corpos ou pelo movimento brusco da água – quanto mais ensolarado o dia, mais forte é o brilho desses organismos à noite.
Para se ter uma ideia do efeito causado pelos dinoflagelados, um dispositivo interativo projeta no chão da exposição milhares de partículas luminosas que seguem os passos dos visitantes – diversão garantida para adultos e crianças.
A exposição também fala sobre animais fluorescentes, que, em vez de produzir sua própria luz, absorvem o brilho do Sol e o reemitem, a exemplo dos recifes de corais. Outros organismos ainda combinam bioluminescência e fluorescência, como as águas-vivas.
Outra preocupação da mostra é revelar como são feitas as pesquisas científicas com os seres bioluminescentes. Para o biólogo John Sparks, curador de ‘Criaturas da luz’, o aspecto mais empolgante – e desafiador – da exposição é a incorporação de informações de pesquisas atuais. Segundo Sparks, muitas das imagens expostas são objetos de investigações ainda em curso, algumas delas capturadas três meses antes do lançamento da mostra.
Ao final do trajeto, fica clara a mensagem de que, seja no mar, no ar ou na terra, ainda há muito por explorar no fascinante universo dos seres bioluminescentes.
Assista ao vídeo produzido pela equipe da exposição com os bastidores de sua montagem
Marina Ramalho
Especial para a CH On-line