O auditório quase lotado do Teatro da Reitoria, em Curitiba, aplaude efusivamente – alguém até se levanta na tentativa de convencer os demais a bater palmas em pé. Encerrada a ovação, forma-se uma fila de pessoas que querem tirar foto ao lado da figura que acaba de descer do palco.
Se a cena é comum após a apresentação de um músico ou ator conhecido, chamou a atenção na quarta-feira (27/6) por conta da personalidade aclamada: o sociólogo Luiz Werneck Vianna, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Vianna havia acabado de fazer a conferência número 1 do XV Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado pela primeira vez na capital paranaense. Na noite anterior, durante a cerimônia de abertura do evento, o sociólogo, hoje com 72 anos, recebera o Prêmio Florestan Fernandes, dado como reconhecimento à relevância de sua contribuição para a sociologia no Brasil.
Na conferência, o pesquisador, conhecido por seu posicionamento socialista, usou a questão agrária como tema central para explicar o que define como a “tortuosidade” da sociedade brasileira. Da Guerra de Canudos à criação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro, Vianna mostrou como a disputa por propriedade ou domínio de territórios sempre esteve presente no campo político e econômico do país, e como isso moldou um Estado falsamente pacificado.
“As UPPs, um dos grandes projetos de estabilidade social brasileiros, derivam de uma estratégia militar desenvolvida no Haiti”, disse, criticando a proposta da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro de instalação de polícia comunitária em favelas com o objetivo de desarticular quadrilhas e milícias.
Para ele, a pacificação de conflitos não deve ser feita apenas por meio da dominação do Estado, mas também com a criação de um espaço de diálogo permanente entre as partes envolvidas.
Um fio de esperança
Apesar de ser o mais assediado, Vianna não é o único destaque do XV Congresso Brasileiro de Sociologia. Realizado bienalmente, o evento tem nesta edição sete conferências, 31 mesas-redondas, 32 reuniões de grupos de trabalho, quatro fóruns, três minicursos, sete sessões especiais e centenas de pesquisas apresentadas sob a forma de pôster, além de uma programação de atividades culturais. Como os alunos dos demais cursos da UFPR estão em férias letivas e os servidores da instituição estão em greve, até esta sexta-feira (29/6) o campus da reitoria da universidade ficará tomado por sociólogos. Os organizadores estimam cerca de 2 mil participantes.
A conferência de Werneck Vianna deveria ter acontecido às 11 horas no anfiteatro do sexto andar do prédio Dom Pedro I da UFPR. Mas o público, que nesse horário saía de 10 mesas-redondas que eram realizadas paralelamente desde as 9 horas, ocupou em questão de minutos as cerca de 100 cadeiras disponíveis na sala.
A organização do evento convidou então os ouvintes para assistir à palestra de Vianna no Teatro da Reitoria, que tem 700 poltronas e fica a menos de 100 metros de onde estavam. O programa atrasou cerca de 40 minutos. “Esse inconveniente é um reflexo da importância que Luiz Werneck Vianna tem para todos”, avaliou Celi Scalon, presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia.
As quase 500 pessoas que enfim acompanharam a conferência perceberam um Vianna pessimista, por um lado, mas esperançoso, por outro. “Nossa República é torta; nasceu torta. E nada vai acontecer no sentido de desentortá-la sem o trabalho de vocês”, finalizou, diante de uma plateia – composta, em sua maioria, de professores e estudantes de sociologia –, que imediatamente começou a aplaudir.
Célio Yano
Ciência Hoje On-line / PR