Quem ainda acha que quadrinhos é coisa de criança perdeu uma boa oportunidade de desfazer o equívoco no mês passado, na Rio Comicon, versão carioca da mais famosa feira do gênero no mundo. Hoje, Mônica, Luluzinha e Menino Maluquinho dividem o cenário com novos e promissores personagens. Adultos e até filosóficos, eles ganham espaço e reinventam a linguagem nacional.
A segunda edição da Rio Comicon ocupou, entre os dias 20 e 23 de outubro, o pátio interno da Estação Leopoldina, no Rio de Janeiro. Ali, exposições de Will Eisner, o papa dos quadrinhos; da personagem Valentina, de Guido Crepax; e dos 75 anos da DC Comics dividiam espaço com estandes de quadrinistas em franca ascensão, como os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon, e de artistas independentes buscando seu lugar ao sol.
Durante o evento ficou claro que a produção nacional nunca esteve tão forte e que o público, ávido pelas novidades, tem se interessado muito mais pelos quadrinhos brasileiros, marcando o crescimento desse fenômeno cultural, mais conhecido no meio como HQs.
Os principais responsáveis pela ‘nova cara’ das tirinhas nacionais são, provavelmente, Bá e Moon, Danilo Beyruth e os Rafaéis – Coutinho, Albuquerque e Grampá –, todos presentes e muito disputados nos corredores da Leopoldina.
A Rio Comicon também promoveu debates entre novatos e alguns dos mais respeitados quadrinistas, nacionais e internacionais, como Chris Claremont, que por muito tempo roteirizou as revistas dos famosos X-men, e Bob Schreck, editor de quadrinhos da IDW Publishing.
Papo cabeça
A academia também marcou presença no evento, representada por Fernando Gerheim, professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) e autor da HQ Urubucamelô. Entre os tópicos discutidos estavam o futuro dos quadrinhos, cultura pop, o mito do herói e a produção nacional e internacional.
“O papel da HQ enquanto nona arte é nos fazer pensar sem abrir mão do aspecto estético”, reflete Gerheim.
O encontro ainda contou com o 1º Colóquio Internacional de Filosofia e Quadrinhos, que fomentou debates ‘cascudos’, indo de Sócrates a Bachelard, passando por contextos políticos, religiosos, educacionais e, claro, artísticos.
“Acho que a relação entre as HQs e a filosofia é muito saudável”, afirma Gerheim. “Ela deve vencer a resistência da filosofia de pensar sobre aquilo que é considerado simples entretenimento.”
Além disso, a Rio Comicon apostou mais uma vez nas oficinas para cativar o público e incentivar futuros artistas. Os participantes, incluindo aqui as crianças, tiveram a chance de aprender um pouco sobre técnicas de colorização digital, fundamentos de roteiro e desenho anatômico.
Ana Carolina Correia
Ciência Hoje On-line