Águas do Pacífico influenciariam nebulosidade em SP

 

 Vôos atrasados, trânsito lento e acidentes são algumas das conseqüências mais freqüentes dos nevoeiros nas grandes cidades. Já bastante conhecido pelos meteorologistas, o fenômeno ocorre pela combinação de fatores como umidade, temperatura, ventos e composição do ar. No entanto, um estudo sugere que possa existir mais um aspecto a ser considerado para o entendimento da formação de nevoeiros na cidade de São Paulo: La Niña.

A existência de uma associação entre o fenômeno La Niña (resfriamento anormal das águas do Pacífico próximas ao Peru) e a formação de nevoeiros na cidade de São Paulo foi uma das conclusões da dissertação de mestrado da meteorologista Gilca Palma Fernandes, defendida em setembro de 2003 no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP).

Para realizar a pesquisa, Gilca utilizou informações da estação meteorológica do IAG de 1933 a 2000, do Aeroporto Internacional de Guarulhos entre 1988 e 1997, além de dados do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro de Dados Atmosféricos e Oceânicos (Coads/EUA).

Com todos esses recursos, a meteorologista constatou que, quando as regiões no oceano Pacífico próximas à costa peruana ficam mais frias, a quantidade de nevoeiros em São Paulo aumenta — fenômeno observado especialmente no mês de agosto. Apesar dessa verificação, realizada por meio de comparações estatísticas, ainda não se conhece o motivo para tal associação. “São necessários estudos mais profundos para explicar esse tipo de comportamento”, afirma Gilca.

Outra importante constatação obtida na pesquisa refere-se à gradual diminuição da quantidade de nevoeiros na capital paulista a partir da década de 1980. A elevação da temperatura em vários pontos da cidade — provocada, sobretudo, pelo aumento da área urbana e pelo desmatamento — pode ser uma das principais causas de um menor número de nevoeiros registrados. “O nevoeiro só se forma quando o ar é condensado devido ao aumento da umidade ou ao esfriamento do ambiente até que seja atingida a temperatura de ponto de orvalho”, explica.

Segundo a meteorologista, as alterações na temperatura dos oceanos Atlântico e Pacífico e a lógica da circulação de ventos são variáveis que precisam ser estudadas para que a formação de nevoeiros seja um fenômeno mais bem compreendido. Ainda assim, com o acesso a ferramentas como estatísticas e equações específicas (modelagem numérica), Gilca acredita que as previsões meteorológicas para São Paulo poderão ficar mais precisas, o que pode minimizar complicações matinais indesejáveis nas ruas e nos aeroportos.

Andreia Fanzeres
Ciência Hoje On-line
05/02/04