Além das fórmulas e dos números

Quando perguntadas sobre a física, muitas pessoas apenas torcem o nariz e declamam uma ou duas fórmulas matemáticas. A reação do astrônomo carioca Alexandre Cherman é diferente. “Reconheço que faço parte de uma minoria: a das pessoas que gostam de física”, confessa. Em seu novo livro, Sobre os ombros de gigantes , ele procura partilhar essa paixão com o público leigo.

Cherman tenta provar que a physiké , ou “ciência das coisas naturais”, como os antigos gregos a definiam, pode ser mais atraente do que parece, sobretudo para aqueles cujo único contato com a matéria foram as aulas preparatórias para o vestibular. O autor, doutorando pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), mostra que há mais eventos interessantes na história da física que a velha lenda da maçã caindo na cabeça de Isaac Newton.

A obra reconta a evolução da física com ênfase nos grandes nomes que contribuíram para o avanço dessa ciência. A viagem começa no século 6 a.C., na Grécia antiga, com Tales de Mileto e outros filósofos, e segue através dos tempos, passando por Nicolau Copérnico e Galileu Galilei até chegar às duas grandes revoluções que, lideradas por Albert Einstein e Max Planck, estabeleceram a teoria da relatividade e a mecânica quântica e, assim, deram novos rumos ao estudo da física.

Embora não se trate de um mergulho profundo na história da ciência, o livro oferece aos leigos a oportunidade de compreender melhor o diálogo entre as necessidades práticas e as formulações teóricas da física. Com linguagem simples e didática, mostra como a ótica, a mecânica e a termodinâmica, entre outras, se desenvolvem a partir de problemas cotidianos e da busca de explicações para o universo em que vivemos. Uma prova de que a ciência não se reduz ao emaranhado de fórmulas que a maioria dos professores apresenta nas aulas do ensino médio.

Cherman segue a cronologia das descobertas, mas não se deixa aprisionar por ela: quando necessário, permite-se ir e voltar no tempo para facilitar a compreensão do leitor. Já no título, procura deixar claro que, ao longo dos séculos, o estudo da física evolui “sobre os ombros de gigantes”, ou seja, a partir de teorias desenvolvidas por gênios do passado. A narrativa mostra que, desde o estudo quase filosófico do movimento dos planetas, na Grécia antiga, até as teorias mais recentes, cada trabalho aprimora seus predecessores, em vez de destruí-los.

Diante da mudança de paradigma gerada pela teoria da relatividade e pela mecânica quântica, Cherman apresenta de maneira sucinta as idéias que marcaram os estudos do século 21 (simetria e supersimetria, cordas e supercordas, supergravidade, dualidades e branas) e como elas são incorporadas à ‘teoria de tudo’ ou ‘teoria final’, que alguns acreditam ser a realização do antigo sonho de unificação das forças da natureza. O autor, no entanto, não acredita que esse seja o “fim da física”: lembra que o final da ciência já foi anunciado outras vezes, mas nunca se concretizou.

 

Sobre os ombros de gigantes –
uma história da física

Alexandre Cherman
Rio de Janeiro, 2004, Jorge Zahar Editor
Telefone: (21) 2240-0226
200 páginas – R$ 31,00

Catarina Chagas
Ciência Hoje On-line
12/04/04