Além do arroz com pequi

O pequi ( Caryocar brasiliense ), fruto característico do cerrado brasileiro e ingrediente típico de pratos da culinária regional, pode trazer mais benefícios para o corpo humano além do prazer gastronômico. Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) revelou que o fruto tem propriedades antioxidantes que previnem os efeitos colaterais — como mutações celulares — provocados pelos tratamentos quimioterápicos para câncer, sem diminuir a proliferação de células sadias.

“Estudos já haviam demonstrado que o pequi continha agentes antioxidantes como flavonóides, carotenóides, vitaminas C e E”, conta o biólogo Cesar Koppe Grisolia, orientador da pesquisa da UnB. “A inovação do nosso trabalho foi mostrar que esses agentes podem ser eficazes na proteção do DNA celular contra as lesões oxidativas provocadas pelos quimioterápicos.”

Nos testes realizados pelos pesquisadores, os agentes antioxidantes mostraram-se capazes de diminuir a quantidade de radicais livres — que podem ocasionar alterações no DNA e outras estruturas celulares e, com isso, provocar uma série de disfunções orgânicas. Os testes foram realizados durante a pesquisa de mestrado da bióloga Juliana Khouri, no Laboratório de Genética e Mutagênese da UnB.

Os biólogos aplicaram extrato de pequi dissolvido em água em culturas de células de ovários de hamster chinês. As células foram então tratadas com substâncias usadas no tratamento químico de pacientes com câncer — como ciclofosfamida e bleomicina. Segundo Grisolia, houve uma redução de 35% a 40% no índice de quebras cromossômicas.

Os pesquisadores utilizaram o extrato de pequi diluído, pois é a forma mais comum de consumo do alimento. “O pequi já era usado na medicina folclórica para tratar doenças respiratórias e infecções. É um ótimo alimento”, explica Grisolia. Além de consumido como prato regional no Centro-oeste, o extrato de pequi também pode ser utilizado em cápsulas, como fitoterápico. A UnB está solicitando o processo de patente do método no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

Grisolia espera que os efeitos benéficos do pequi contribuam para a preservação da árvore. “A madeira do pequizeiro tem sido muito utilizada para fazer carvão e na construção de casas”, lamenta o biólogo. “Em pé, a árvore pode nos trazer muito mais vantagens.”

Eliana Pegorim
Ciência Hoje On-line
09/08/04