Alerta às lipos

O Brasil é o segundo país com o maior número de cirurgias plásticas no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cerca de 20% de todos os procedimentos são de lipoaspiração.

Embora casos pontuais de complicações venham vez ou outra a público, pouco se sabe sobre os riscos reais por trás desse tipo de cirurgia. Em tese defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisador mostra que a técnica, principalmente quando aliada à lipoenxertia, pode levar a quadros de embolia gordurosa.

Em casos extremos, a condição pode evoluir para uma forma mais grave, a síndrome da embolia gordurosa. O fenômeno acontece quando parte da gordura se solta durante a operação e se movimenta pelo corpo, alcançando órgãos vitais, como o fígado e os pulmões.

“A probabilidade de uma embolia gordurosa ocorrer após uma lipoaspiração é pequena, porém, ela ainda é a quarta maior causa de complicações nesses procedimentos, principalmente na lipoescultura”, afirma Fernando Fabrício Franco, cirurgião plástico e autor da tese.

“A probabilidade de uma embolia gordurosa ocorrer após uma lipoaspiração é pequena, porém, ela ainda é a quarta maior causa de complicações nesses procedimentos”

Franco realizou seu trabalho com 30 ratos, divididos em três grupos de dez indivíduos. O primeiro – o grupo de controle – recebeu apenas anestesia. O segundo grupo foi submetido à lipoaspiração. Já os ratos do terceiro grupo passaram por uma lipoescultura. Ao se completar 48 horas dos procedimentos, o pesquisador examinou fígado, rins, pulmões e cérebro de cada rato.

Na análise, Franco identificou a presença de gordura nos órgãos vitais de três animais lipoaspirados e em seis que foram submetidos à lipoescultura. Os indivíduos do grupo de controle não apresentaram alteração.

Os efeitos da embolia gordurosa ainda não são conhecidos por completo, mas em casos mais graves podem levar até mesmo à morte. No entanto, a maior preocupação do especialista é a falta de tratamento específico para o problema e a subnotificação das ocorrências.

Mais tempo, mais complicações

A lipoescultura é a associação da lipoaspiração com a lipoenxertia, ou seja, retira-se a gordura localizada de certas partes do corpo e a injetam em outras. Desse modo, o paciente ganha um contorno corporal mais delineado, mas também corre mais riscos na mesa de operação. 

A combinação desses processos aumenta os riscos de complicações porque o indivíduo permanece mais tempo em cirurgia e tem grande área do corpo manipulada. “Qualquer procedimento associado a outro é mais perigoso de ser realizado”, afirma Franco. “Por isso normatiza-se que o paciente não seja exposto a mais de cinco horas de cirurgia e nem que a área corporal operada seja de mais de 40%”, completa.

Segundo Álfio Tincani, médico e orientador da tese, a pesquisa é importante porque mostra a necessidade de o cirurgião estar atento a esse acontecimento que, muitas vezes, passa despercebido. “Afinal, não se trata de cirurgias inofensivas e muito menos simples.”

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Cirurgião enfatiza a importância de se escolher um bom profissional para realizar operações de lipoaspiração, que tenha registro na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e esteja atento aos cuidados pré, intra e pós-operatórios. (foto: James C. Mutter/ CC BY-SA 3.0)

Por isso mesmo Franco enfatiza a importância de se escolher um bom profissional, que esteja atento aos cuidados pré, intra e pós-operatórios. “O paciente tem que buscar um médico com registro na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica para se certificar de que o profissional é qualificado. Exames como o de sangue e avaliação cardiológica não devem ser ignorados nem mesmo quando o paciente é jovem.”

Por outro lado, o cirurgião ressalta que os resultados de sua pesquisa não devem levar pânico à população. “Não quero dizer que não se deve fazer lipoaspiração ou lipoescultura, mas sim que se deve ter parcimônia ao realizar o procedimento, bem como respeitar limites, pois só assim a lipoaspiração continuará sendo o excelente procedimento que o é.”

Ana Carolina Correia
Ciência Hoje On-line