Altruísmo surgiria aos sete anos

 

As crianças desenvolvem o altruísmo entre 7 e 8 anos de idade. Essa é a conclusão de um estudo realizado por um grupo de pesquisadores europeus que testou a disposição de meninos e meninas para compartilhar um bem precioso para eles: doces. Enquanto crianças mais velhas compartilhavam de bom grado suas guloseimas com os colegas, as de 3 a 4 anos mostraram-se majoritariamente egoístas.

Instrutora explica as regras do jogo para uma criança pequena e para uma mais velha. Ambas tinham que escolher entre ficar com um doce e deixar o colega sem nenhum ou dividir igualmente as guloseimas (fotos: Helen Bernhard).

Durante a pesquisa, 229 crianças suíças com idade entre 3 e 8 anos (127 meninas e 102 meninos) participaram de três jogos. Cada uma delas deveria escolher entre duas possibilidades para dividir doces com um colega, apresentado por uma fotografia.

No primeiro jogo, ela poderia escolher entre distribuir os doces igualmente ou ficar com um doce para si e nenhum para o colega. No segundo, havia a opção de uma guloseima para cada ou uma para ela e duas para a outra criança. Já no terceiro, a escolha era entre a divisão igual ou dois doces para ela e nenhum para o amigo.

Os resultados, publicados na Nature desta semana, mostram que as crianças menores se comportaram de forma predominantemente egoísta e escolheram as alternativas que traziam maiores benefícios para elas mesmas. Já as crianças mais velhas demonstraram uma repulsa pela desigualdade. Nos três jogos, a opção preferida dos mais crescidos foi “um doce para cada um”.

Os pesquisadores concluíram que as crianças mais velhas rejeitam não só uma desigualdade que beneficie a elas mesmas, como também aos colegas. O que move a escolha não é apenas a perspectiva do benefício de uma outra criança, mas sobretudo a busca por uma solução justa e igualitária. “Observamos um forte desenvolvimento da consideração pelo outro entre os 3 e 8 anos”, conta à CH On-line uma das autoras do artigo, a economista Bettina Rockenbach, da Universidade de Efurt, na Alemanha.

Fatores genéticos e culturais
As razões que levam ao desenvolvimento do altruísmo nessa faixa etária passam tanto pela genética quanto pela cultura, na opinião de Rockenbach. “Nosso experimento não pode desvencilhar os fatores genéticos dos culturais, que provavelmente se influenciam mutuamente.”, explica a economista. “As crianças passam do jardim de infância para a escola, onde os professores ensinam a igualdade como uma regra importante. As crianças mais velhas também são mais sensíveis à opinião de outros, o que as leva a pensar como suas atitudes afetarão o juízo das pessoas sobre elas”.

Para Rockenbach, estudar as origens da preocupação com o outro é essencial para entender por que a cooperação humana em grandes grupos é tão significativa. “Um melhor entendimento da cooperação humana nos possibilitará esboçar mecanismos para promover a cooperação em dilemas sociais, como a proteção do clima global, em benefício de toda a sociedade”, afirma. 

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
28/08/2008