Análise de suor identifica uso de cocaína

Cerca de 13,3 milhões de pessoas consomem cocaína no mundo atualmente, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, o número estipulado chega a quase um milhão, mas técnicos da ONU admitem que as estatísticas não refletem a realidade, já que poucos usuários assumem consumir drogas. Com o objetivo de incrementar a abrangência e a eficácia das análises toxicológicas que são realizadas no Brasil, pesquisadores estudam novos meios para comprovar a exposição de indivíduos à cocaína.

Esse é o caso da farmacêutica e bioquímica Maria José Damas, que defendeu, em sua dissertação de mestrado pela Universidade de São Paulo (USP), a utilização do suor como matriz biológica para verificar a exposição de usuários à cocaína, isoladamente ou associada à ingestão de bebida alcoólica. A técnica é conhecida nos Estados Unidos, mas ainda não é utilizada no Brasil. Em sua dissertação, Damas desenvolveu um método prático e eficiente para detecção de cocaína e cocaetileno no suor.

O cocaetileno é o produto da associação da cocaína com o etanol (presente em bebidas alcoólicas). De acordo com pesquisas recentes, esse composto seria ainda mais prejudicial para a saúde do indivíduo. “De 50 a 90% dos usuários de cocaína usam o álcool para potencializar os efeitos da droga e equilibrar as sensações indesejáveis, como uma excitação exagerada”, explica a pesquisadora.

“A análise do suor pode ser muito útil no acompanhamento de pacientes em tratamentos ambulatoriais para a dependência de drogas ou indivíduos em liberdade condicional que são submetidos a visitas periódicas de acompanhamento”, afirma Damas.

O adesivo coletor retém os componentes do suor e permite identificar o uso de cocaína

 

O procedimento é simples: aplica-se no braço do usuário um adesivo coletor composto de uma fina almofada absorvente em algodão compactado, revestida por um filme plástico adesivo. Quando o indivíduo transpira, o vapor d’água e gases (oxigênio e gás carbônico) escapam para o ambiente, enquanto os componentes do suor ficam retidos na almofada coletora.

É necessário que o usuário fique ao menos um dia com o adesivo ou até uma semana, dependendo do período que se pretende monitorar. Nesse intervalo, a pessoa pode viver normalmente e até tomar banho com o adesivo, pois o filme plástico previne a entrada de substâncias do exterior para a almofada coletora. Após a coleta, a almofada coletora passa pelo processo de eluição (fracionamento) e extração das substâncias, segundo uma técnica proposta por Damas.

Atualmente, o método mais utilizado no Brasil para se detectar o consumo de cocaína utiliza a urina como amostra biológica. Segundo Damas, o suor apresenta vantagens sobre a urina, que seriam a dificuldade de adulteração da amostra (quando colhida com adesivos), a coleta sem constrangimento e o maior período de detecção da cocaína (até 7 dias, contra 2 ou 3 dias no caso da urina).

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
13/10/04