Ancestralidade contestada mais uma vez

Um novo estudo traz mais argumentos para reforçar a hipótese — cada vez mais aceita — de que os homens de Neandertal não são ancestrais dos humanos modernos. Por meio da análise comparativa de imagens computadorizadas de crânios de primatas extintos e atuais, pesquisadores norte-americanos e gregos pretendem colocar um ponto final definitivo numa das maiores polêmicas sobre a emergência do Homo sapiens .

A imagem mostra a superposição dos 15 pontos de referência estudados nos crânios de um neandertal (vermelho) e de um Homo sapiens moderno (verde). Imagem: Univ. de Nova York

Desde 1856, quando foram descobertos seus primeiros fósseis no vale do rio Neander, Alemanha, os neandertais são motivo de debate no meio científico. Alguns acreditam que se trata de uma subespécie extinta do H. sapiens e que, portanto, teria contribuído significativamente para a evolução dos primeiros europeus modernos. Outros, no entanto, crêem que os homens de Neandertal são de uma espécie distinta e teriam apenas coexistido com nossos ancestrais há até 30 mil anos atrás, quando se extinguiram.

Para encerrar a polêmica, uma nova técnica chamada geometria morfométrica foi adotada no estudo conduzido pela antropóloga grega Katerina Harvati, da Universidade de Nova York (EUA). Foram definidos 15 pontos de referência no crânio dos 1089 exemplares de primatas estudados. Por meio de imagens computadorizadas em 3D, as amostras foram examinadas em pares de modo que cada um desses 15 pontos de determinado crânio ficasse sobreposto ao seu correspondente e a diferença entre eles medida.

Fósseis de neandertais, macacos e hominídeos do período Paleolítico foram confrontados, bem como dos grandes macacos africanos (gorilas e chimpanzés) e de humanos modernos. Os cientistas mediram primeiramente o formato dos crânios das espécies vivas e produziram modelos comparativos.

“Não medimos parentesco, mas sim o grau de diferença morfológica entre espécies que já sabíamos serem parentes,” disse Katerina à CH On-line . Os cientistas criaram um método qualitativo para determinar que grau de diferença classificaria os exemplares estudados como espécies diferentes. Só após determinarem o número de variações existentes entre as espécies atuais eles as compararam com as extintas.

Publicado em 26 de janeiro na versão on-line da revista Proceedings of The National Academy of Sciences , o resultado da comparação revelou que a diferença entre a morfologia dos crânios de humanos atuais e de neandertais era maior que a verificada entre outras espécies com grau de parentesco comprovado, o que invalidaria a hipótese de que os homens de Neandertal seriam nossos ancestrais. “Neandertais são uma espécie diferente da nossa e não contribuíram de forma alguma para nossa evolução”, disse Katerina.

A hipótese de que os neandertais teriam sido importantes na emergência dos H. sapiens moderno sofreu um importante abalo em 1997, quando pesquisadores alemães e americanos recuperaram uma amostra do seu DNA mitocondrial. Ao compará-lo com o de um humano atual, os cientistas encontraram diferenças o suficiente para derrubar a idéia de que se tratava de uma subespécie ancestral do H. sapiens .

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
30/01/04