Quando você realiza uma pesquisa na rede mundial de computadores, sem querer disponibiliza dezenas de dados pessoais. Trocas involuntárias de arquivos ( cookies ) e mecanismos de espionagem on-line permitem o rastreamento do nome e das preferências do usuário, de seus hábitos de navegação e endereço eletrônico, da ‘identidade virtual’ do computador (IP) e até da configuração da máquina.
Aparentemente a salvo, essas informações têm destino desconhecido. A princípio, deveriam ser utilizadas para beneficiar o próprio internauta. De posse delas, sites e empresas de marketing para a internet formulam bancos de dados que personalizam o atendimento.
Para proteger o navegante de invasões à privacidade e, ao mesmo tempo, manter o caráter utilitário da coleta de dados, um novo mecanismo estará disponível, em caráter experimental, a partir de dezembro. O Masks (sigla em inglês para “Gerenciamento do anonimato enquanto se divide o conhecimento com servidores”), desenvolvido na tese de doutorado de Lucila Ishitani na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), poderá ser acessado gratuitamente e promete aumentar a liberdade de navegação de seus usuários.
Professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Lucila procurou formular um mecanismo que garantisse, ao mesmo tempo, o anonimato do internauta e os benefícios personalizados dos sites visitados.
Os mecanismos de anonimato já existentes simplesmente bloqueiam a troca de cookies e impedem o reconhecimento do IP. Já o sistema Masks protegerá a privacidade dos usuários por meio do uso de máscaras, que funcionam a partir da formação de grupos de acordo com o interesse e as preferências do internauta. Na prática, ele é identificado não por seu perfil individual, mas por preferências relativas ao grupo a que pertence — é como se navegasse com uma ‘máscara’ do grupo.
O Masks possui dois componentes principais. O primeiro, um programa a ser executado junto ao browser , é o responsável por informar ao usuário os riscos de invasão à privacidade e por filtrar e bloquear cookies indesejáveis, por exemplo. O outro componente, um intermediário entre o usuário e a rede, se encarrega de formar os grupos de interesse que, na prática, estarão para o servidor assim como um único usuário.
Informações como o IP e dados pessoais do usuário do Masks estarão sob proteção, mas aquelas referentes a seus interesses enquanto membro do grupo estarão disponíveis por meio da ‘identidade coletiva’.
“O Masks só garante a privacidade de quem está pesquisando na Web”, alerta Lucila. “Ele se ausentará em negociações comerciais e transações bancárias, que pressupõem o fornecimento consentido de informações.” Nessas operações, é importante conhecer a política de privacidade de cada site. “Mecanismos como o Masks procuram proteger apenas as informações trocadas sem a ciência do usuário”, explica a pesquisadora.
Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
18/08/03