Aparelho prevê ataque de fungos a plantações

Um aparelho capaz de prever ataques de fungos a plantações poderá reduzir a utilização de agrotóxicos no país. É possível estimar a probabilidade de ocorrência desses microorganismos a partir da medição de parâmetros essenciais para que eles se alastrem, como temperatura, umidade relativa do ar, índice de chuvas e o tempo e a intensidade com que as folhas ficam molhadas. Por meio de sensores que medem esses dados, o Equipamento de Previsão de Doenças Fúngicas (EPF) indica a quantidade necessária de pulverização de fungicidas, reduzindo para até um terço do total os gastos com o tratamento.

O aparelho dispensa o uso de energia elétrica e usa bateria de 6 volts, carregada por um painel solar. O projeto, desenvolvido pelo engenheiro agrônomo Nilson Villa Nova, da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (Esalq), em Piracicaba (SP), e pelo engenheiro eletrônico Fábio Valadão, da empresa Microdesign Informática, em Campinas (SP), ainda está em fase de acabamento. Com um custo médio de R$ 4 mil, o EPF serve para qualquer cultura, desde que configurado com o software adequado, e está previsto para entrar no mercado em 2001.

O EPF estabelece um critério científico para pulverizações, que são feitas muitas vezes apenas a partir da observação do agricultor. As informações obtidas pelos sensores são coletadas por um microprocessador, que as codifica e apresenta para o agricultor por meio de um visor ou sistema de rádio. Os dados podem ainda ser recolhidos pelo chip de uma pulseira que é encostada no aparelho. Em seguida, as informações alimentam uma planilha de cálculo, na qual o agricultor pode programar a pulverização. O alcance do aparelho depende da topografia do terreno; em áreas planas, pode atingir 10 hectares.

O projeto é pioneiro no desenvolvimento de um produto de prevenção contra fungos feito basicamente com material brasileiro e adaptado à realidade tropical. Os aparelhos usados no país são importados, caros e exigem do agricultor conhecimento prévio das grandezas monitoradas. “No EPF, o processamento matemático é feito dentro do aparelho e a informação já chega ao usuário traduzida”, explica Valadão. Outro diferencial do aparelho é a possibilidade de averiguar o índice de procriação dos insetos.

Protótipos do EPF estão sendo testados em universidades e centros de pesquisa. “Estamos trabalhando em uma infra-estrutura que ofereça assistência técnica, ao contrário do que ocorre com os importados, e ainda a um baixo custo”, explica Villa Nova. “O aparelho pode contribuir para uma agricultura sustentada, reduzindo poluição, custos e riscos de saúde para o usuário”, acrescenta Valadão.

Helena Aragão
Ciência Hoje/RJ
19/10/00