Aranha descoberta no Pará corre risco de extinção

Uma nova espécie de aranha foi descoberta durante expedição pelo rio Juriti, no Pará. A Drymusa canhemabae é a segunda espécie do gênero encontrada na América do Sul e a primeira do Brasil. A descrição da espécie saiu em 25 de outubro na revista Zootaxa , em um artigo assinado por Antonio D. Brescovit, do Instituto Butantan, Alexandre B. Bonaldo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Cristina A. Rheims da Universidade de São Paulo (USP).

Imagem ampliada de macho da D. canhemabae . A aranha mede 2,16 mm de comprimento (foto:Cristina Rheims)

Segundo Alexandre Bonaldo, a nova espécie de aranha tem distribuição geográfica restrita, o que aumenta a dificuldade de encontrá-la e, principalmente, o risco de extinção. Além disso, a D. canhemabae vive em uma área de intensa exploração de bauxita e, por conta disso, está ameaçada. “Na exploração da bauxita retira-se a cobertura vegetal para a mineração”, explica o zoólogo. “Em seguida, a cobertura vegetal é recolocada no local de onde foi retirada. Isso diminui o impacto, mas não garante a segurança da espécie.”

A D. canhemabae pertence à 67ª família de aranha registrada no Brasil – a 59ª na Amazônia. Mesmo assim, Bonaldo reclama da falta de informação sobre as espécies amazônicas. “Há um imenso vazio amostral sobre a incidência de outras aranhas na região”, aponta.

As técnicas de captura usadas pelos pesquisadores são reveladoras da maneira como a espécie vive. A D. canhemabae foi capturada em ’terra firme’, às margens do rio Juriti. Foram 15 dias de prospecção, na qual foram capturadas também outras espécies de aranhas, ainda não descritas.

Segundo Bonaldo, a equipe usou duas técnicas simples de captura para recolher os animais: o ’guarda-chuva entomológico’ e a ’armadilha de queda’. O primeiro dispositivo é constituído por dois cabos envoltos com um pano, que lembra a disposição de uma rede: bate-se com os cabos na vegetação e os animais presos a ela caem no pano. Isso indicaria que as aranhas vivem na vegetação.

Já a ’armadilha de queda’ é feita com um copo de 500 ml, com um terço de álcool a 80%, enterrado no chão. Os animais que vivem na camada de folhas secas, ou seja, caminham no chão, caem dentro da armadilha e ali se conservam no álcool até serem recolhidos.

A D. canhemabae foi encontrada em dois microhábitats diferentes, distantes 20 quilômetros um do outro e de características vegetais diferentes. Isso pode significar que a espécie tenha capacidade de viver em mais de dois microhábitats. Apesar disso, os pesquisadores estão pessimistas quanto à distribuição da nova espécie, o que se nota no nome que escolheram para batizá-la: canhemabae vem do tupi e significa ’aquele que pode desaparecer’.

Aline Gatto Boueri
Ciência Hoje On-line
22/12/04