As impressões de Einstein sobre o Rio de Janeiro

Brasil, 1925. O meio científico ainda era incipiente: havia uma única universidade (a UFRJ), criada cinco anos antes, e os centros de pesquisa tinham vocação técnica e objetivos pragmáticos. É nesse contexto que o país recebe a visita do cientista mais famoso do século 20, Albert Einstein. Sua viagem, que também incluiu Argentina e Uruguai, foi registrada pelo pesquisador Alfredo Tiomno Tolmasquim, diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), em Einstein: o viajante da relatividade na América do Sul .

 

O livro — um documento rico em uma edição primorosa — registra todos os passos do cientista na América do Sul e traz uma breve biografia do alemão, correspondências trocadas por ele e textos de conferências proferidas na ocasião, além de muitas fotos. O destaque fica por conta do diário de viagem de Einstein, publicado pela primeira vez em português.

Tudo começou quando Tolmasquim, durante pós-doutorado na Universidade Hebraica de Jerusalém, tomou conhecimento do diário escrito por Einstein na América do Sul. De volta ao Brasil, ele continuou a pesquisa sobre a viagem do alemão. Mas foi só em 2002 que o projeto do livro tomou forma: a convite do Instituto Max Planck para a História da Ciência, Tolmasquim passou três meses em Berlim como pesquisador visitante para concluir a obra, lançada dois anos depois pela Vieira & Lent.

Em 1925, Einstein já era reconhecidamente o maior cientista vivo por suas contribuições fundamentais à física moderna. Em 1919, adquirira súbita fama quando expedições científicas a Sobral, no Ceará, e à Ilha do Príncipe, no Golfo da Guiné, confirmaram sua teoria da relatividade ao observar um fenômeno previsto pela teoria durante um eclipse do Sol. A partir de então, muitos países fizeram de tudo para receber o ilustre cientista.

A vinda de Einstein à América do Sul foi decorrência de uma grande mobilização de instituições argentinas, que culminou com um convite oficial da Universidade de Buenos Aires, em 1923. Einstein, que tinha por princípio “só aceitar convites formulados por instituições científicas, em caráter oficial, para evitar que seu nome fosse utilizado para fins de propaganda por algum grupo”, consentiu. Instituições brasileiras e uruguaias aproveitaram e acertaram a vinda do cientista também para o Rio e Montevidéu.

Para Einstein, era importante difundir suas teorias pelo mundo e tentar aproximar as comunidades científicas dos diversos países, que haviam estado em conflito na Primeira Guerra Mundial. Além disso, aproveitava suas viagens para defender a causa judaica, uma de suas principais convicções.

 

Einstein visita o Instituto Oswaldo Cruz. À sua direita, Carlos Chagas

No Brasil, Einstein proferiu conferências, visitou centros de pesquisa, participou de recepções da comunidade judaica e alemã e defendeu a paz entre os povos. Seu diário de viagem indica que, embora ele se mostrasse sempre muito diplomático e atencioso em público, todas essas incumbências muito o fatigavam. Em diversos momentos da viagem, celebrava suas horas de paz e tranqüilidade.

 

A estadia de Einstein na Argentina, onde esteve cercado de jornalistas e compromissos, foi especialmente cansativa. Ao chegar a Montevidéu, seu segundo destino, Einstein escreve em seu diário: “Término do sofrimento”. Quando zarpa para o Brasil, lamenta ter que enfrentar mais uma vez uma agenda cheia: “Eu daria qualquer coisa para não ter que subir no trapézio mais uma vez no Rio, mas é preciso agüentar”. Embora tenha registrado suas boas impressões sobre o Rio e suas riquezas naturais, Einstein não deixa de ficar contente com a perspectiva de voltar para casa: “Finalmente livre, porém mais morto do que vivo”, confidenciou a seu diário.

 

Einstein – o viajante da relatividade
na América do Sul

Alfredo Tiomno Tolmasquim
Rio de Janeiro, 2003, Vieira & Lent
255 páginas

Carla Almeida
Jornal da Ciência
01/03/04