Surpreendentes são as transformações ocorridas no mundo a partir da revolução digital. A tecnologia abriu um fluxo praticamente ininterrupto de informações e apresentou ao homem novas formas interação. Popularizado rapidamente, o conjunto computador-internet refinou a maneira de se estudar, trabalhar e pesquisar; mas foi no âmbito das relações sociais que ele provocou conseqüências mais sensíveis, ao redimensionar as noções de tempo e espaço. Esse é o ponto de vista do antropólogo Jonatas Dornelles, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), exposto em artigo publicado em junho na revista Horizontes antropológicos . Pesquisador da influência da internet nas relações pessoais, o professor acessou regularmente um chat de Porto Alegre entre 2001 e 2003 para avaliar as novas formas de sociabilidade na era digital. Ele observou que as salas virtuais de bate-papo ampliam laços sociais, ao proporcionar o contato de pessoas que, por motivos geográficos ou culturais, provavelmente não se conheceriam. “Os chats são espaços virtuais que, com uma lógica própria, simulam uma sociabilidade real”, explica. “De acordo com a freqüência e horário dos acessos, gostos e intenções, usuários identificam-se e formam grupos seletos de amigos – como na vida real.” Jonatas compara a formação dessas comunidades virtuais à dos grupos sociais tradicionais: em ambos os casos, a interação social depende de uma simultaneidade vivida. Seja para combater a solidão, pelo instinto coletivo ou para fugir de uma situação real, os freqüentadores obedecem a regras de convivência, dispõem de estratégias para sustentar a interação e identificam-se por compartilhar a mesma situação, no presente. A possibilidade de estar conectado a amigos em ocasiões em que isso seria impossível – por se estar no trabalho ou do outro lado do mundo – é um importante fator de atração. Compartilhar um momento sem dividir o mesmo espaço físico é um sinal da desterritorialização das relações, promovida pela revolução digital. “Não é mais preciso proximidade geográfica para que haja interação social. Mesmo virtuais, as salas de bate-papo são um ponto de encontro em que pessoas conversam e namoram, independentemente do que ocorre no mundo real”, afirma Jonatas. A interação cibernética, no entanto, ainda exigia um alinhamento das pessoas no tempo. Mesmo em espaços geográficos distintos, a conexão simultânea era um aspecto fundamental para a formação de grupos sociais específicos. Com o desenvolvimento das possibilidades virtuais de interação, Jonatas chama a atenção para a transcendência também do tempo nas novas formas de relação social. Uma terceira forma de sociabilidade surge assim na era digital. Bem representada pelo fenômeno Orkut, ela permite uma interação independente do tempo e do espaço. “Poder trocar informações e experiências sem precisar dividir o mesmo período de tempo é um reflexo do controle cada vez maior do homem sobre o tempo”, conclui o antropólogo.
Leia na internet o artigo de Jonatas Dornelles
Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
01/10/04