Aurora da ciência moderna

Provavelmente o leitor já estudou o período do Renascimento e conhece a profundidade das transformações ocorridas na Europa entre os séculos 15 e 17. Além das mudanças no comércio, arte e religião, a natureza mística descrita pelos pensadores medievais deu lugar a uma visão mais racionalista e mecanicista do mundo.

Explicar como tantas inovações se articularam e qual sua importância para a formação do pensamento dos cientistas modernos é a tarefa assumida pelo segundo volume da coleção Breve história da ciência moderna – Das máquinas do mundo ao universo-máquina . O livro concebe a história da ciência como um processo integrado às múltiplas dimensões da realidade renascentista e mostra como arte, economia e religião, por exemplo, influíram na consolidação das idéias que geraram a ciência da modernidade.

Das grandes navegações ao advento da perspectiva nas representações artísticas, o desenvolvimento de novas técnicas atendeu a demandas práticas — localizar uma caravela no oceano, lutar contra correntes marítimas e ventos contrários, projetar e construir novas catedrais…

O livro mostra como, nesse contexto, o universo passou a ser concebido como máquina, sobretudo a partir das inovações na astronomia — trazidas por Copérnico, Tycho Brahe, Kepler, Galileu e Newton — que colocaram em xeque a idéia de perfeição do mundo celeste. Com Descartes, também o funcionamento do corpo humano e de outros animais foi associado às máquinas cada vez mais presentes no cotidiano dos europeus.

A investigação científica passou então a ser caracterizada pela experimentação e pela observação metódica da natureza, viabilizada pela matemática. As novas teorias, porém, não emergiram de forma simples. Os escritos dos principais fundadores da ciência moderna, como mostram os autores, estão repletos de controvérsias e buscam ajustar visões antagônicas sobre o funcionamento do mundo.

Além disso, ao contrário do saber dos alquimistas da Idade Média, a ciência moderna nasceu e se desenvolveu acompanhada de um amplo processo de divulgação: “era necessário ganhar adeptos e espalhar as novas idéias”. Novas técnicas de reprodução de livros, como a imprensa desenvolvida por Gutenberg, assumiram a missão e representaram ainda o fim do monopólio da Igreja sobre os saberes, já que as novas editoras estavam nas mãos de leigos e publicavam trabalhos não só em latim, mas também nas línguas locais.

Com texto simples e atraente, ilustrações e sugestões de atividades complementares, o livro mantém o padrão estabelecido pelos autores no primeiro volume da série Breve história da ciência moderna . Marco Braga, Andreia Guerra e José Claudio Reis são físicos especializados em filosofia e história da ciência e formam o Grupo Teknê. Inspirado nos ateliês do Renascimento em que os artesãos mesclavam ciência, técnica e arte para elaborar seus trabalhos, o trio tem como objetivo difundir o conhecimento científico de forma interdisciplinar. Até aqui, eles têm conseguido.

Breve história da ciência moderna – Volume 2:
Das máquinas do mundo ao Universo-máquina (séc. XV a XVII)

Marco Braga, Andreia Guerra e José Claudio Reis
Rio de Janeiro, 2004, Jorge Zahar Editor
Fone: (21) 2240-0226
136 páginas – R$ 24,00

Catarina Chagas
Ciência Hoje On-line
21/06/04