A plantação de uma variedade de banana está sendo apontada por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como a solução para a sigatoka negra, praga que vem dizimando grande parte das plantações da região Norte do país. Trata-se da prata zulu, que além de resistente à doença, tem boa produtividade e uma estrutura mais resistente ao despencamento, com sabor semelhante ao da prata comum. A sigatoka negra é causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis , que é facilmente transportado pelo vento e destrói a folha da bananeira, prejudicando o crescimento do fruto.
Bananas prata zulu resistem mais ao despencamento
A doença atinge todos os tipos de bananas comercializados. Nas variedades prata e maçã, a contaminação impede o desenvolvimento dos frutos. Nos tipos usados para fritura, como a banana da terra, o fruto cresce com tamanho e vigor alterados, além de ter os teores de açúcar e amido reduzidos. A ação do fungo é rápida e leva à morte prematura da folha, de modo que a planta não produz nutrientes para o crescimento do fruto.
Para produzir um cacho ideal para a comercialização, uma bananeira precisa de dez folhas saudáveis. No caso da prata zulu, a quantidade ultrapassa a média. “Essa planta desenvolve uma resistência horizontal, que atua na velocidade do ataque do fungo e permite que o desenvolvimento do fruto seja mais rápido que essa ação”, afirma o fitopatologista José Clério Pereira, da Embrapa. “A produção é duradoura e atrativa para o agricultor.” Nessa variedade, a ligação do fruto com a penca é feita por pedicelos mais rígidos, diminuindo o risco de despencamento. Por isso, ela é a variedade ideal para o transporte a longas distâncias e para a exportação – um diferencial significativo em uma cultura destinada quase em sua totalidade ao mercado interno.
A primeira ocorrência da sigatoka negra se deu nas Ilhas Fiji, em 1962. Em 96, ela chegou a Peru e Colômbia, sendo constatada dois anos depois nos municípios de Benjamin Constant e Tabatinga (AM). O Brasil tem 560 mil hectares destinados à produção de bananas, que chega a seis milhões de toneladas por ano. Atualmente, a sigatoka negra é detectada no Amazonas, Acre, Rondônia, Amapá e Mato Grosso, contaminando 90% das lavouras de praticamente todos esses estados. A rapidez de difusão da doença preocupa os pesquisadores. “Se continuar nesse ritmo, em poucos meses ela chegará em São Paulo e Minas Gerais”, alerta Pereira.
A partir de outubro de 2000, a Embrapa distribuirá mudas da planta para agricultores de todo o país, em especial os das regiões mais prejudicadas. A idéia é estimular a produção da prata zulu para combater a proliferação da doença. Pereira acredita que essa seja a solução, já que o controle químico implicaria altos gastos.
Helena Aragão
Ciência Hoje/RJ
06/09/00