Baratas podem ampliar risco de asma em crianças

Portadores de doenças respiratórias não devem economizar na hora de uma boa dedetização. O motivo? Baratas podem ampliar o risco de asma entre crianças e adolescentes, conforme sugerem dois estudos recém-concluídos na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O resultado das pesquisas fortalece essa hipótese, que já havia sido levantada em trabalhos anteriores.

Um desses estudos, coordenado pelos médicos José Ângelo Rizo e Emanuel Sarinho, verificou que a incidência de asma em residências com baratas é quase três vezes maior do que nas casas onde não há a presença do inseto. Os pesquisadores examinaram 172 domicílios recém-dedetizados em Recife. Naqueles em que foi encontrada a presença de baratas mortas, considerou-se que havia exposição das crianças aos insetos. Das 79 crianças de 4 a 12 anos que estavam expostas às baratas, 32% tinham asma; no grupo de 93 crianças não expostas ao inseto, o índice de asmáticos foi de 12%.

Já a dissertação de mestrado da médica Isabella Londres realizou testes de sensibilização a baratas em crianças asmáticas e em um grupo de controle não asmático. Segundo Isabella, seu estudo reforça uma tendência apontada em pesquisas anteriores: a predisposição genética nas crianças com asma para produzir anticorpos do tipo IgE contra alérgenos ambientais comuns, como ácaros, fungos ou baratas.

A asma não é uma doença, mas uma alergia desencadeada por fatores como mofo, pelos de gato e cachorro e, ao que tudo indica, fezes de baratas ou fragmentos de seu exoesqueleto dispersos no ar. Indivíduos que apresentam sensibilização a esses alérgenos produzem anticorpos do tipo IgE — imunoglobina E. A reação entre esse anticorpo e os alérgenos causa um desequilíbrio no organismo, com a produção de mediadores químicos que desencadeiam a crise alérgica. No caso da asma, essa crise provoca estreitamento das vias aéreas dos pulmões, chiado no peito, tosse, cansaço etc.

O estudo de Isabella, realizado no Hospital das Clínicas da UFPE, verificou a sensibilização às duas principais espécies de baratas domiciliares ( Periplaneta americana e Blattella germanica ) entre 76 crianças e adolescentes com asma e em um grupo de 42 não asmáticos. No teste cutâneo de hipersensibilização imediata, avaliou-se a reação da pele do indivíduo aos dois tipos de baratas: nos asmáticos, aproximadamente 28% apresentaram resultados positivos para cada espécie. No grupo de controle, 5% das crianças tiveram resultados positivos à B.germanica e 2,5% à P.americana .

Os resultados foram ratificados por um segundo teste, de sensibilização a baratas pela dosagem de anticorpos IgE no soro (líquido que se separa do sangue após a coagulação). Os resultados foram os seguintes: entre asmáticos, os exames foram positivos em 42% ( B. germanica ) e 29% ( P. americana ). No grupo de controle, os exames foram positivos em 21% ( B. germanica ) e 17% ( P. americana ).

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
04/06/03