Big Brother na floresta

Papagaios-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) que vivem na região de Ilha Rasa, no litoral do Paraná, passaram a ser monitorados por câmeras. Os equipamentos, colocados em ninhos artificiais, ajudam pesquisadores da organização não-governamental Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) a compreender melhor as fases de desenvolvimento da espécie para protegê-la de ameaças à sua conservação.

A espécie é endêmica da mata atlântica (ver ‘Cara-roxa’) e está ameaçada de extinção. Segundo a bióloga Elenise Sipinski, coordenadora do projeto, os vídeos já ajudaram a desvendar detalhes sobre o comportamento da ave. Descobriu-se, por exemplo, que a fêmea permanece no ninho por aproximadamente 15 dias após o nascimento dos filhotes.

Durante esse tempo, o macho é responsável por alimentar a fêmea e a ninhada. “Depois de 30 dias, a fêmea deixa o ninho”, conta Sipinski. “Os filhotes passam então a receber menos comida, preparando-se para o primeiro voo, que acontece cerca de 60 dias após o nascimento”, complementa.

Ninho de papagaio-de-cara-roxa
Imagem capturada por câmera instalada dentro de ninho artificial mostra um macho alimentando a fêmea, que permanece no ninho para cuidar dos filhotes. (foto: Arquivo SPVS)

Todas as informações obtidas ajudam a equipe a construir um banco de dados sobre os hábitos da espécie. A partir daí, os pesquisadores analisam a eficiência dos ninhos, confeccionados em madeira para substituir as estruturas naturais destruídas com o tempo.

“Por enquanto, as imagens não apontaram qualquer problema com os ninhos. Ao que tudo indica, eles estão funcionando bem para a ave”, afirma a bióloga. Caso os vídeos revelem algum problema, como uma doença no animal, por exemplo, os pesquisadores estão preparados para tomar providências.

As câmeras foram posicionadas dentro e fora de dois ninhos, mas só um deles foi monitorado, porque as aves abandonaram o outro antes de os ovos serem colocados. A gravação das imagens ocorreu durante o período de reprodução da espécie, que vai de setembro a março. De acordo com Sipinski, a equipe pretende agora conseguir mais recursos para ampliar o projeto e instalar câmeras em outros 40 ninhos, construídos de PVC, que já estão sendo usados pelos pássaros.

Filhote de papagaio-de-cara-roxa
Filhote com aproximadamente 40 dias de vida. Os animais são monitorados por pesquisadores da SPVS. (foto: Arquivo SPVS)

 

Em extinção

Segundo estudos da SPVS, há hoje cerca de 6,5 mil papagaios-de-cara-roxa na faixa litorânea em que a espécie ocorre, entre o sul de São Paulo e o norte de Santa Catarina. Esse número deve diminuir se não houver ações de preservação.

Entre as principais ameaças à sobrevivência da espécie estão a destruição do hábitat, em consequência da derrubada excessiva de árvores, e o comércio ilegal da ave.

Cara-roxa

O papagaio-de-cara-roxa, também conhecido como chauá, tem comprimento médio de 36 cm, as penas das costas com bordas amarelas e a testa vermelha. Alimenta-se de frutos, folhas e flores, e é uma espécie monogâmica, ou seja, passa a vida toda com um único parceiro. Se a ave tiver seu par roubado por traficantes de animais, por exemplo, pode demorar muito a encontrar outro para reprodução. Endêmica da mata atlântica, a espécie é considerada bioindicadora, por ser sensível às alterações do ambiente – sua presença demonstra a boa qualidade do ecossistema local.

Filhotes de papagaio-de-cara-roxa
Filhotes em um ninho natural na Ilha Rasa (PR). Ambos têm 58 dias e estão prestes a voar pela primeira vez. (foto: Arquivo SPVS)

Marina Sequinel
Ciência Hoje On-line/ PR

Este texto foi atualizado para incluir a seguinte alteração:
As câmeras foram instaladas em dois ninhos artificiais – e não em 40, como dito anteriormente –, mas apenas um deles foi monitorado, pois as aves abandonaram o outro. (25/04/2013)