Biocida para combater a dengue

 

Uma pesquisa realizada por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade de São Paulo (USP) resultou na criação de uma substância que consegue eliminar totalmente as larvas do mosquito Aedes aegypti , transmissor da dengue, sem deixar resíduos tóxicos no ambiente. O biocida foi desenvolvido a partir de uma planta nativa brasileira presente em grande quantidade na mata atlântica, a Piper solmsianum .

O estudo, conduzido pela bióloga Marise Maleck e pelo entomologista Anthony Érico Guimarães, ambos do Laboratório de Díptera do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), teve como ponto de partida o estudo das lignanas, moléculas lipídicas produzidas pelas plantas e que servem como proteção contra insetos predadores. Ao analisarem as lignanas da P. solmsianum , os pesquisadores atestaram sua alta toxicidade contra as larvas do A. aegypti .

Para a análise, uma equipe do Instituto de Química da USP isolou as lignanas da P. solmsianum . A planta passou por um processo de maceração, usado para extrair quimicamente seus princípios ativos, o que resultou em um líquido proveniente das lignanas.

Em seguida, o grupo do IOC fez diferentes testes até que se chegasse a uma formulação ideal: ao utilizar 100 microlitros do líquido em um litro de água contendo larvas do mosquito, o índice de mortalidade foi de 100% em 24 horas. Segundo os pesquisadores, os larvicidas usados atualmente, por serem químicos ou biológicos (feitos com bactérias), apresentam algum grau de toxicidade, tanto para humanos quanto para animais. “O novo biocida não gera nenhum efeito nocivo”, destaca Guimarães.

A próxima etapa da pesquisa será a realização de testes de campo, para que a eficácia do biocida na natureza seja comprovada. Os pesquisadores afirmam que, como existe a possibilidade de as lignanas serem desenvolvidas de maneira sintética, a substância poderá ser produzida em escala industrial caso os resultados sejam positivos. “Como os testes foram feitos em laboratório, com todas as situações controladas, há a necessidade de se repetir a experiência em campo. Depois disso, veremos qual é a melhor formulação do biocida para que seja produzido de forma industrial”, acrescenta o entomologista.

Apesar de controlada na maioria dos grandes centros urbanos, a dengue ainda preocupa os órgãos de saúde pública do país. Segundo dados do Ministério da Saúde, 134.909 casos da doença foram registrados até março deste ano. Mato Grosso do Sul foi o estado mais atingido, com 55.567, seguido por São Paulo, com 12.221, e pelo Rio de Janeiro, com 8.765.

“Como os casos de dengue nos grandes centros do país já estão sob controle, já era previsto que houvesse esse avanço para o interior”, avalia Guimarães. Segundo ele, o índice no Mato Grosso do Sul já chega a 1.000 casos por dia. “Mas o combate à doença nas maiores cidades também não pode ser deixado de lado, principalmente no Rio, tendo em vista a proximidade dos Jogos Panamericanos e o risco de turistas e participantes do evento serem infectados”, alerta.

João Gabriel Rodrigues
Ciência Hoje On-line
23/05/2007