Boa notícia para as matas do Paraná

Os primeiros pinheiros clonados do Brasil começam a dar pinhões. O resultado anima os pesquisadores da Universidade Federal do Paraná, que iniciaram a pesquisa com clonagem da espécie há mais de 15 anos e agora colhem as sementes do projeto. O objetivo do estudo, coordenado pelo engenheiro agrônomo Flávio Zanette, é propor uma alternativa para a recomposição das matas de araucária no Paraná, atualmente reduzidas a menos de 2% de sua área original.

null

A obtenção das primeiras pinhas com sementes da árvore clonada foi precoce, cerca de seis anos antes do que seria esperado em uma araucária comum

As primeiras mudas clonadas — da espécie Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná) — foram obtidas em 1988 pela professora Cecília Iritani; desde então os pesquisadores distribuíram cerca de 200 clones no Paraná e em Santa Catarina. A árvore que gerou os pinhões foi plantada em Criciúma, e já havia produzido pinhas (frutos) sem sementes, pois não havia pinheiros machos ao redor, o que impossibilitava a fecundação. A barreira geográfica foi transposta pelo próprio Zanette, que trouxe estróbilos (órgãos masculinos) de Curitiba e polinizou manualmente as pinhas.

Os pinhões surgiram em fevereiro e deverão estar maduros em junho. Só então os pesquisadores poderão avaliar se essas sementes são capazes de produzir embriões que germinem, o que é fundamental para a reprodução e preservação da espécie. Caso os pinhões não sejam férteis, serão testados novos métodos de polinização. Aliado a isso, estuda-se ainda a possibilidade de uso de sementes artificiais na propagação de araucárias.

O desmatamento, causado pelo alto valor da madeira da araucária, e a falta de maior conhecimento sobre a biologia dessa espécie foram os responsáveis pela imensa redução do número de pinheiros-do-paraná. Como conseqüência, a espécie sofre com a erosão genética — empobrecimento na diversidade de cruzamentos que pode levar à extinção.

A diversidade genética é fundamental para garantir a preservação das araucárias. “Seria um grande risco termos todas as florestas com um ou dois clones”, explica Zanette. “A proposta é aumentar o número de indivíduos com boas características sem homogeneizar as matas.” Os clones geneticamente mais fortes poderiam ser implantados em diversas regiões no Brasil, desde o sul de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, e no exterior — Chile e Argentina, embora possuam espécies diferentes, poderiam adotar a técnica.

A clonagem também pode ajudar a valorizar o plantio da araucária. Pinheiros comuns costumam produzir sementes em torno dos 20 anos; já a árvore clonada que obteve pinhões tem apenas 14. Empresários que preferiam plantar pínus e eucaliptos, que podem ser usados para consumo ou produção de sementes em apenas 10 anos, podem ter na araucária clonada uma nova opção de plantio.

Os bons resultados da pesquisa, no entanto, não garantem a sobrevivência da espécie. À clonagem deve-se aliar uma séria política de preservação das matas restantes. “Estamos tentando mobilizar a classe política, para que considere o estudo estratégico”, conclui Zanette.

Gisele Lopes
Ciência Hoje on-line
11/04/03