Bola para frente

O incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz, no começo de 2012, não interrompeu as pesquisas brasileiras desenvolvidas no continente gelado. Mas o anúncio do projeto vencedor da nova estação brasileira, feito na semana passada, anima os pesquisadores que viram a antiga base ser consumida pelas chamas e que, desde então, insistem em trabalhar apesar das dificuldades.

“Além dos trabalhos feitos em navios, no fim do ano passado alguns biólogos foram até o local da estação, onde ficaram acampados”, conta a bióloga Lucélia Donatti, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que integra expedições à Antártica desde 1996. “Agora é bom saber que há um projeto bem feito; que há um grande investimento para reconstruir a estação.”

Assinado pelo arquiteto Fábio Faria, o projeto da nova estação Comandante Ferraz prevê 19 laboratórios, de especialidades como química, microbiologia e biologia molecular, entre outras, além de auditório, lan house, biblioteca, sala de reuniões, camarotes institucionais, salas de estar e jantar e área de serviço.

Assinado pelo arquiteto Fábio Faria, o projeto da nova estação prevê 19 laboratórios, auditório, lan house, biblioteca, sala de reuniões, camarotes institucionais, salas de estar e jantar e área de serviço

Destacam-se ainda aspectos ligados à segurança do empreendimento, que deverão evitar tragédias como o incêndio ocorrido na antiga estrutura. “O edifício possibilita isolamento do risco com portas corta-fogo”, explica Faria. “Há ainda o projeto de prevenção e de combate a incêndio, a ser detalhado.”

Embora não conheça em pormenores o projeto, Lucélia Donatti está otimista com a nova estação. “Foi um trabalho sério; a comunidade científica participou diretamente na elaboração das diretrizes do concurso”, conta.

Com área total de 3,2 mil m², a nova estação será reconstruída no mesmo local onde estava a anterior, na Ilha do Rei George, Baía do Almirantado, com um investimento de aproximadamente R$ 72 milhões, segundo a Marinha do Brasil. Haverá capacidade para acomodar até 64 pessoas, entre pesquisadores, militares e visitantes.

Formado há menos de três anos, o arquiteto Fábio Faria já havia sido premiado em concursos como estudante e é um dos fundadores do escritório de arquitetura Estúdio 41, sediado em Curitiba. Além dos colegas que participaram do projeto da nova Comandante Ferraz (cinco arquitetos e cinco estagiários), ele contou com a consultoria de engenheiros e outros arquitetos especializados nas áreas de conforto e energia, instalações, segurança e prevenção contra incêndio, estruturas e geotecnia.

Detalhes

A primeira fase do projeto demandou pesquisas sobre a estrutura da antiga estação e de estações de outros países instaladas na Antártica, que serviram de referência. A partir das necessidades de desempenho ambiental estabelecidos pela Marinha do Brasil no edital do concurso, foram definidos aspectos como materiais, instalações elétricas, fontes de energia e sistema de reaproveitamento de água.

As estruturas principais serão em aço de alta resistência à corrosão e a baixas temperaturas. Internamente, a proposta é que vários ambientes, como os camarotes, sejam pré-fabricados com componentes modulares de madeira, o que permite que esses cômodos saiam já montados do Brasil.

Ambiente interno da ova estação Comandante Ferraz
Detalhe de ambiente interno projetado para a nova estação Comandante Ferraz. (imagem: Estúdio 41)

Segundo cálculo do grupo, a demanda de energia será de aproximadamente 300kW, a maior parte exigida pelos sistemas de aquecimento de água e de calefação. A estação funcionará a partir de geradores fotovoltaicos e eólicos e da queima de etanol. Um sistema automatizado fará o controle das fontes de energia – somente na falta de energia eólica ou solar, o uso do etanol será feito na capacidade máxima.

Licitação

Promovido pela Marinha do Brasil e organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), o concurso para a escolha do projeto da nova estação Comandante Ferraz recebeu 74 inscrições. A previsão é que o processo licitatório para a execução da obra termine no fim deste ano. O lançamento da pedra fundamental da base está previsto para o próximo verão antártico, que vai de novembro a março. A Marinha trabalha para iniciar a operação da nova estação até março de 2015.

Nova base brasileira na Antártica
O lançamento da pedra fundamental da nova base está previsto para o próximo verão antártico, que vai de novembro a março. A Marinha trabalha para iniciar as operações no local até março de 2015. (imagem: Estúdio 41)

Inaugurada em 1984, a antiga estação Comandante Ferraz teve 70% da estrutura destruída por um incêndio ocorrido no dia 25 de fevereiro de 2012. As chamas teriam começado na praça de máquinas, onde ficavam os geradores de energia da estação. Dois militares morreram.

Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR