Brasil apresenta seu barco solar

Uma combinação de energia solar e motores de propulsão elétrica pode ser o futuro para as pequenas embarcações. É o que acredita um grupo de pesquisadores e alunos do Pólo Náutico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que acaba de voltar da Holanda com um bom resultado. O barco Copacabana conquistou o quarto lugar de sua categoria em uma competição de 48 barcos solares na qual era o único participante não europeu.

O casco do Copacabana é parecido com o de outros pequenos veleiros. O que muda é a propulsão e a captação de energia, além de sua aparência. O barco tem painéis que captam a energia do sol e dão a ele um aspecto curioso e um formato diferente. Esses painéis são responsáveis por carregar as baterias que, por sua vez, alimentam o motor elétrico. Além disso, há um circuito eletrônico que gerencia a energia que vem dos painéis – ela pode ser transferida diretamente para o motor caso a bateria já esteja cheia, o que evita a sobrecarga.

“Fizemos um barco confiável, que precisa de pouca energia para alimentar o motor”, explica o engenheiro naval Rafael Coelho, piloto do Copacabana. “Em vez de picos de velocidade, preferimos optar pela constância. Foi o trunfo do Copacabana. Outros barcos imprimiam maior velocidade nas primeiras horas da prova, mas depois tinham que andar devagar, pois estavam com pouca bateria.” A velocidade do Copacabana se mantinha em torno de cinco nós, enquanto outros barcos, mais inconstantes, oscilavam entre picos de até 10 nós e velocidades mais baixas ou pausas por falta de bateria.

Desempenho na competição

O Copacabana conquistou o quarto lugar em uma competição holandesa de barcos solares em que foi o único participante não europeu.

A competição, chamada Frisian Solar Challenge, ocorre de dois em dois anos na Holanda e tem o objetivo de divulgar fontes alternativas de energia para embarcações. O Copacabana conquistou o quarto lugar de sua classe, caracterizada por barcos de apenas um ocupante e painéis fornecidos pela competição, e o sétimo lugar geral, que inclui as três classes do rali.

Em um dos sete dias de prova, os barcos passaram por um trecho de floresta em que o Sol não podia alcançar os painéis. Enquanto várias embarcações tiveram que reduzir a velocidade ou mesmo parar, o Copacabana, cuja bateria estava completamente carregada, ultrapassou cinco adversários e concluiu a etapa em terceiro lugar. No último dia de prova, o barco seguia na terceira posição, quando foi ultrapassado por uma embarcação holandesa, que terminou a prova apenas três minutos à frente do barco brasileiro.

Além da boa colocação, o saldo da competição é a troca de informações com equipes internacionais. “Essas competições costumam levar o que tem de ponta, a fronteira da tecnologia, já que congregam pessoas ligadas a universidades, que desenvolvem pesquisas na área”, ressalta o desenhista industrial Frederico Vecchi, integrante da equipe que projetou o Copacabana. O time voltou ao Brasil com a certeza de que a tecnologia do país para pequenas embarcações não perde em nada para os padrões mundiais.

Planos para Brasil

Clique na imagem para assistir ao vídeo com momentos do Copacabana na competição de barcos solares.

O Copacabana foi construído pela própria equipe, mas a estrutura eletrônica e o motor foram importados. Na próxima edição do rali, daqui a dois anos, a proposta é levar um barco com tecnologia 100% nacional. Somente os painéis solares não seriam desenvolvidos na própria universidade, já que é regra da competição que todos os barcos utilizem os mesmos painéis, fornecidos pelos patrocinadores.

Uma das vantagens do modelo de propulsão elétrica para pequenas embarcações é o aproveitamento da energia. Enquanto um motor a gasolina tem eficiência em torno de 30%, já que muita energia se perde na combustão em forma de calor, no motor elétrico ela chega a 90%.

O grupo trabalha, atualmente, no desenvolvimento de projetos de construção de barcos solares com motor elétrico para a coleta de lixo e o transporte de passageiros com essa tecnologia. Apesar de demandar um investimento caro – o desenvolvimento do Copacabana custou cerca de 90 mil reais –, essa tecnologia dispensa gastos com combustível e manutenção.

Ainda são necessárias, no entanto, parcerias com a iniciativa privada para a produção de barcos solares em maior escala. “Entendemos que energia solar no Brasil pode ser usada em pequenas embarcações, mas não podemos esperar que o mercado resolva isso sozinho”, explica o engenheiro naval Mauricio Nepomuceno. “Vamos mostrar nossa tecnologia e experiência, para que as empresas possam olhar com mais atenção para esse tipo de investimento, pois o retorno compensa.”


Tatiane Leal

Ciência Hoje On-line
29/07/2008