Brasil produzirá motor híbrido para foguete

O Brasil deu um importante passo para evitar que acidentes como a explosão do foguete na base de Alcântara em 2003 se repitam. Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveu um projeto, pioneiro na América Latina, de motor híbrido para foguetes. Os pesquisadores aprimoraram um propulsor que utiliza combustível sólido e oxidante líquido. O primeiro protótipo será montado em janeiro de 2005.

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Teste do motor híbrido do SpaceShipOne, o primeiro foguete particular do mundo. O propulsor usou um combustível sólido (polibutadieno) e um oxidante líquido (óxido nitroso).

Nos propulsores tradicionais usados na indústria espacial, combustível e oxidante (elemento que permite a queima do combustível) são apenas sólidos ou apenas líquidos. Os veículos lançadores de satélite (VLS) construídos no Brasil eram todos movidos a combustíveis sólidos, uma tecnologia simples e disseminada no mundo inteiro. Nos grandes centros como os Estados Unidos, os motores usados são movidos a combustíveis líquidos, mais seguros, porém muito caros.

 

Além de ser mais barato que seus concorrentes, o motor híbrido é menos perigoso e emite menos gases poluentes. “Esse tipo de motor emite uma grande quantidade de gases tóxicos, a maioria a base de cloro e alumínio e, atualmente, a poluição produzida pelos foguetes é um grande problema”, adverte o engenheiro mecânico Carlos Alberto Gurgel, professor da UnB e coordenador da pesquisa.

 

O propulsor desenvolvido na UnB usa a parafina comum (de vela) como combustível sólido e o óxido nitroso (N2O, também conhecido como gás hilariante) como oxidante. Esse modelo é similar a um desenvolvido pela Nasa, a agência espacial norte-americana, junto com a Universidade de Stanford, mas inédito na América Latina.

 

“Além disso, esses materiais não são reativos fora da câmara de combustão”, explica Gurgel. Isso permite que uma missão seja abortada a qualquer momento, ao contrário do que ocorre nos motores movidos a combustíveis sólidos.

 

No caso desses propulsores, o risco de explosão é alto já que, depois de iniciado, o processo de combustão não pode ser interrompido. Se, por exemplo, ocorrer uma fissura no propulsor, haverá um aumento da pressão interna do motor e, conseqüentemente, a explosão do veículo. Além disso, os propelentes sólidos são muito reativos, o que aumenta o risco que envolve sua fabricação, transporte e estocagem.

 

Já os motores com combustíveis líquidos são mais seguros, porém muito caros ‐ só os países com alta tecnologia espacial dominam essa técnica. “Esses foguetes trabalham com criogenia e com complexidade elevada, como bombas hidráulicas, por exemplo”, explica Gurgel. São detalhes como esses que tornam a tecnologia desse tipo de propulsor mais sofisticada.

 

O projeto da UnB foi aprovado no programa Uniespaço da Agência Espacial Brasileira, que visa aperfeiçoar pesquisas de tecnologia aeroespacial feitas em universidades e outros centros de estudos. A estimativa é que o foguete com propulsor híbrido esteja pronto em meados de 2006. O teste será feito num foguete de médio porte semelhante ao Sonda 1 e, caso o motor seja aprovado, poderá, num futuro próximo, ser usado para lançar satélites de órbita baixa ou em missões de sondagem. Para que isso fosse possível, a UnB passou a trabalhar junto com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

 

“Para vôo suborbital esse motor já se tornou uma opção”, afirma Gurgel. Ele cita o caso da SpaceShipOne, primeiro foguete particular do mundo, que contou com um propulsor híbrido. “No futuro, os foguetes serão equipados com essa tecnologia, prova disso é que a Nasa tem investido muito no seu desenvolvimento.”


Pedro Gomes Ribeiro
Ciência Hoje On-line
17/12/04