Enquanto na Terra as temperaturas não param de subir, no espaço a regra é o contrário. Uma equipe de astrônomos da Suécia, França, Alemanha e Austrália mediu a temperatura do universo há cerca de 7 bilhões de anos, quando tinha metade da idade atual, e verificou que ele era mais quente do que hoje, como previam as teorias mais aceitas da cosmologia.
Os cientistas observaram uma galáxia a 7,2 bilhões de anos luz da Terra. Como a luz emitida no espaço demora a chegar até nós, ao olhar para regiões distantes, os astrônomos olham para o passado do universo.
Para saber a temperatura desse ponto, eles se aproveitaram da radiação emitida por um objeto extremamente energético, um quasar, que fica por trás da galáxia. Ao passar pelas nuvens de gás da galáxia da frente, essa radiação foi detectada com o radiotelescópio australiano Australia Telescope Compact Array (ATCA) e permitiu que os pesquisadores vissem as moléculas presentes na região.
O perfil dos elementos químicos foi usado para precisar a temperatura. Isso porque diferentes moléculas se comportam de diferentes modos sob determinadas temperaturas. Assim, a temperatura do universo há 7 bilhões de anos foi estimada em -267ºC, mais quente que a atual, de -270ºC.
“A galáxia da frente funciona como uma lente que amplifica o que se vê atrás; olhando para ela, é possível ver o efeito da radiação da galáxia de trás e estimar a sua temperatura”, explica o astrofísico Carlos Alexandre Wuensche, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A medição não foi surpresa para os cientistas. A teoria física padrão usada para explicar o comportamento do universo prevê que, com a sua expansão, sua temperatura cai linearmente desde o big bang.
“Se a teoria estiver certa, a temperatura do universo deve cair conforme o universo expande, como um balão de gás, quanto mais a gente assopra, menor a temperatura dentro dele”, exemplifica Wuensche. “A detecção de qualquer distorção de temperatura sairia da explicação do modelo padrão cosmológico e precisaríamos de uma nova física para explicar o universo.”
O líder do estudo, Sebastien Muller, do Observatório Espacial Onsala, na Suécia, diz que o grupo deve continuar as medições de temperatura do universo, em pontos cada vez mais distantes, para verificar o modelo padrão cosmológico.
Química primordial
Além da temperatura, o estudo oferece pistas interessantes sobre as características químicas do universo jovem. O perfil de moléculas traçado pelos astrônomos mostra a presença de diversas substâncias e elementos que existem hoje na Terra como alguns açúcares, hidrogênio e carbono.
Segundo Wuensche, esses dados são úteis para compreender a evolução da química e a vida no universo.
“É fascinante saber que lá longe essas espécies químicas já estavam formadas em quantidade significantes e que já havia uma química muito rica que mais tarde permitiu a formação de moléculas mais complexas importantes para a bioquímica da vida”, comenta.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line