Câncer pode não impedir gravidez

A quimioterapia e a radioterapia ainda são incapazes de combater o câncer sem deixar mulheres inférteis (foto: Hilde Vanstraelenuz).

A maternidade pode não ser mais uma realidade distante para mulheres que sofrem de câncer. Médicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conseguiram restabelecer, após estímulos hormonais, as atividades reprodutivas de ratas que tiveram seus ovários retirados, congelados e reimplantados em seu aparelho reprodutor. A descoberta pode ajudar mulheres que ainda desejam ter filhos depois de fazerem tratamento contra o câncer.

“Cinqüenta por cento das mulheres que fizeram quimioterapia perdem a capacidade de produzir óvulos”, afirma o orientador da pesquisa, o médico Selmo Geber, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG. Segundo ele, isso se deve ao fato de as drogas quimioterápicas destruírem as células em divisão (mitose). “Apesar dos avanços da medicina, a quimioterapia e a radioterapia ainda são incapazes de combater a doença sem deixar mulheres inférteis.”

Geber lembra que a mulher do século 21, por priorizar a vida profissional, passou a adiar a maternidade e, como a idade avançada aumenta o risco de câncer, sua capacidade reprodutiva pode estar prejudicada no futuro. Para tentar oferecer a essas mulheres a oportunidade de serem mães, há três anos a equipe da UFMG testa a possibilidade de remoção temporária dos ovários.

“O método consiste em extrair os ovários durante o período em que a mulher faz as sessões de quimio ou radioterapia, para que eles não sejam danificados”, diz Geber. Na primeira fase da pesquisa, o médico retirou e recolocou cirurgicamente com sucesso ovários de ratas com câncer no aparelho reprodutivo. Em uma segunda etapa, os ovários foram congelados após a retirada e colocados novamente no organismo das roedoras.

Na última experiência da equipe, os ovários de ratas foram retirados, congelados, reimplantados e estimulados com hormônio folículo-estimulante (FSH), responsável pelo desenvolvimento e maturação dos folículos (estruturas do ovário que contêm os óvulos). Após os testes, a atividade dos ovários foi restabelecida.

Nova chance de gravidez
“Esses resultados poderão permitir no futuro que mulheres com câncer de colo de útero, cujo tratamento consiste na cirurgia de remoção do seu aparelho reprodutor, possam ter seus ovários congelados e estimulados com o FSH para que produzam óvulos novamente, o que viabilizará uma fertilização in vitro em 30 dias”, destaca o médico. A injeção do hormônio FSH, produzido todo mês pelo corpo da mulher para a maturação dos óvulos, já é aplicada regularmente no processo de fertilização in vitro, pois, com um maior número de embriões, maiores são as chances de gravidez.

Para Geber, a pesquisa transcende a expectativa feminina de gravidez em casos de câncer. “As mulheres que tiveram seus ovários retirados por causa do câncer de colo de útero entram na menopausa após a operação. O novo método talvez permita que elas tenham seus ovários recolocados somente com o objetivo de não interromper a atividade hormonal do organismo, em vez de depender de remédios para menopausa.”

Com o sucesso dos resultados em animais, o pesquisador espera que, em breve, a equipe confirme a eficácia do método em humanos. “Primeiro precisamos ver se as mulheres respondem a essa estimulação com FSH após a recolocação do ovário”, pondera Geber. “Mas, se conseguirmos, poderemos dar esperança a mulheres que cada vez mais sofrem com o câncer e desejam ser mães.”

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
23/10/2007