A emissão desgovernada de gás carbônico (CO2) na atmosfera pelo homem tem sido apontada como uma das principais causas do aquecimento global. Para amenizar o problema, cientistas estudam materiais para retirar esse gás-estufa do ar. É o caso de um grupo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que desenvolveu um pó capaz de capturar o CO2 ao seu redor.
O produto, branco, semelhante a um talco, contém uma substância à qual o dióxido de carbono livre no ar se liga, sendo, assim, retirado da atmosfera. O material pode ser usado para fabricação de filtros de ar, que poderiam ser empregados por indústrias, e até na construção civil, misturado ao cimento e ao concreto. Chaminés de fábricas, por exemplo, poderiam ser revestidas internamente com o pó, que capturaria o CO2 dos gases expelidos.
Materiais capturadores de carbono já são utilizados por indústrias de produção de energia, principalmente por termoelétricas a carvão nos Estados Unidos, onde a medida é obrigatória. Mas a química Heloise Pastore, coordenadora do Grupo de Peneiras Moleculares Micro e Mesoporosas (GPM3) da Unicamp, que criou o novo material, aponta que sua invenção é mais vantajosa. “A maioria dos produtos empregados hoje apresenta forma líquida, que, durante o uso, gera um spray de gases corrosivos, muito prejudicial às plantas industriais”, diz.
Segundo Pastore, testes realizados em laboratório mostraram que cada grama do pó captura 0,28 g de gás carbônico do ar. “A monoetanolamina (MEA), por exemplo, um dos líquidos usados atualmente para esse fim, absorve 0,12 g de CO2 por grama do produto, menos da metade do que o sólido que criamos”, compara.
A pesquisadora acrescenta que o pó desenvolvido por sua equipe – com o apoio a Petrobras – ainda gera calor durante o processo de captura, o que facilita o reaproveitamento do CO2 e a reciclagem do próprio pó. Ela explica que esse calor pode ser usado para liberar o CO2 já capturado por outro lote de pó, permitindo a reutilização do gás em reações químicas e do material sólido em novos ciclos de captura.
É exatamente nesse reaproveitamento do carbono capturado pelo composto que a próxima fase da pesquisa do GPM3 se concentra. O grupo irá começar a estudar no segundo semestre de 2014 formas de aplicação para o carbono retirado do ar.
“A nossa ideia é reaproveitá-lo de uma forma simples e de modo que ele não volte para a atmosfera por um longo prazo”, afirma Pastore. “Seu uso pode ser viável na produção de plásticos ou em reações químicas em laboratório.”
A química destaca o custo relativamente barato do pó criado pelo seu grupo e a viabilidade da sua produção em larga escala.
Há, no Brasil todo, grupos que buscam maneiras de possibilitar a captura de carbono. Segundo Pastore, esse processo, que não é muito utilizado no país, deveria receber mais atenção das autoridades. “Enquanto nos Estados Unidos o uso de capturadores é obrigatório, aqui no Brasil falta uma tomada de atitude”, pondera. “Deveria haver uma conscientização das empresas que geram CO2, além da criação de leis e multas para impulsionar o uso dos absorvedores do gás.”
Lucas Lucariny
Ciência Hoje On-line