Castanha contra raios de sol



Compostos sintetizados na UnB a partir do líquido da castanha de caju se mostraram eficazes na proteção contra raios solares em animais de laboratório.

Compostos sintetizados a partir do líquido da castanha de caju (LCC) na Universidade de Brasília (UnB) mostraram-se eficazes contra danos provocados pelos raios solares. As substâncias obtidas pelos pesquisadores foram capazes de absorver a radiação solar UVA e UVB com fatores de proteção entre 7 e 9. Resultados satisfatórios foram obtidos em testes com animais de laboratório, mas ainda não há perspectivas para a elaboração de um creme de proteção solar para uso em humanos.

O LCC é um subproduto do beneficiamento da castanha do caju, largamente utilizado no exterior para a produção de lubrificantes, tintas, vernizes e outras aplicações de grande valor agregado. “Percebemos que o LCC é constituído por substâncias que poderiam ser modificadas a fim de produzir compostos capazes de absorver a radiação solar”, conta Maria Lucilia dos Santos, professora do Instituto de Química da UnB.

A equipe de Maria Lucilia precisou isolar os componentes do LCC e combiná-los quimicamente com outras substâncias para chegar às moléculas responsáveis por esse perfil protetor. O estudo foi realizado em parceria com pesquisadores da Universidade Católica de Brasília (UCB).

Inicialmente, o grupo preparou derivados do LCC contendo o grupo benzofenona – presente em alguns tipos de protetores solares UVA que já estão no mercado –, mas os testes preliminares não apresentaram resultados satisfatórios. ”Na seqüência, sintetizamos derivados na forma de cinamatos, grupos funcionais comumente encontrados em filtros UVB”, afirma Maria Lucilia. “Os cinamatos do cardanol, que é um componente presente em alta concentração no óleo, apresentaram perfil de eficácia similar ao dos filtros existentes no mercado”.

Os compostos resultantes – que já foram patenteados no Brasil e no exterior – foram testados na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os ensaios comprovaram que os cinamatos do cardanol não são fototóxicos ( in vitro e in vivo ) e não causam irritação na pele ou nos olhos de camundongos albinos e coelhos.

“Até agora conseguimos fatores de proteção entre 7 e 9, mas pretendemos continuar planejando novas moléculas para melhorar esse desempenho”, diz Maria Lucilia. Além disso, o estudo mostrou que a presença de uma longa cadeia carbônica na estrutura dos compostos obtidos torna-os lipossolúveis – solúveis em gorduras – e faz com que eles sejam facilmente absorvidos pela pele e não saiam prontamente na água.

Testes em humanos
Para testar a substância em humanos, ainda será preciso chegar a uma formulação farmacêutica. É necessário, por exemplo, transformá-la em um creme que possa ser aplicado sobre a pele. “Em seguida, precisamos verificar se as mudanças necessárias não afetarão as propriedades protetoras do composto ou causarão efeitos colaterais indesejados”, conta Maria Lucilia.

A pesquisadora enfatiza, no entanto, que o óleo da castanha de caju não deve de forma alguma ser usado na forma natural para proteção contra raios solares. “O LCC puro não tem as mesmas propriedades dos compostos sintetizados e pode provocar queimaduras graves se utilizado na exposição ao Sol, porque é cáustico e corrosivo”.

Franciane Lovati
Ciência Hoje On-line
26/07/2006