Cebola promete acabar com lágrimas e mau hálito

Boa notícia para os amantes da cebola: o característico mau hálito decorrente da sua ingestão e a choradeira provocada por seu corte podem estar com os dias contados. Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Semi-árido, sediada em Pernambuco) estão testando uma variedade de cebola que não provoca choro involuntário, não deixa bafo e pode ser comida como fruta, por ter sabor quase doce.

A cebola da Embrapa foi obtida por seleção genética: após analisarem quase 300 espécimes da hortaliça, os pesquisadores separaram seis que apresentavam baixa incidência de ácido pirúvico. No corte da cebola, derivados desse ácido formam um fator lacrimogêneo volátil que irrita os olhos e induz a produção de lágrimas , além de provocar o sabor picante da hortaliça.

Os seis espécimes de cebola selecionados pertencem à variedade Alfa Tropical, desenvolvida pela Embrapa Hortaliças, em Brasília. A partir deles, já foram obtidas sementes com bulbos cujo teor de ácido pirúvico está abaixo de 1,5 milicromol por mililitro. Cebolas com essa característica são classificadas como superdoces, e muito valorizadas no mercado externo. A hortaliça desenvolvida pela Embrapa será inicialmente destinada à exportação. As sementes de cebola doce disponíveis no mercado brasileiro atualmente são importadas dos Estados Unidos.

O pesquisador Carlos Antonio Santos, um dos responsáveis pela obtenção da cebola, explica que ainda não foi produzida a quantidade de sementes necessária para o plantio em larga escala. “Em aproximadamente 14 meses, será possível a distribuição de apenas 5 kg de semente para áreas piloto, o que equivale a dois hectares de terra cultivada. Em quase dois anos, produziremos meia tonelada de sementes, demanda requerida para exportação.”

A cebola pesquisada pela Embrapa é totalmente adaptada às condições climáticas do Nordeste brasileiro. O ciclo de produção é de dias curtos, o que é uma vantagem em relação às variedades estrangeiras, com períodos de desenvolvimento mais longos. Ela também será menos suscetível a doenças típicas da região, como o mal de sete voltas, disseminado pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides . Como não foram desenvolvidas para solo brasileiro, as sementes importadas trazem maior risco de infestação por pragas.

Santos ressalta ainda que a nova cebola, por ser doce, pode ser comida crua, o que permitiria preservar propriedades terapêuticas de compostos presentes na hortaliça que desaparecem com o cozimento. Além de provocar a perda de sabor, esse processo elimina as substâncias presentes na cebola que impedem a formação de plaquetas no sangue e reduzem os riscos de doenças cardiovasculares. Além disso, o cozimento anula a ação dos agentes antioxidantes da hortaliça, associados à inibição do câncer de estômago em seres humanos. “Uma cebola de sabor doce com essas propriedades medicinais terá forte apelo comercial e poderá estabilizar o preço para os produtores brasileiros”, conclui Santos.

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
19/04/04