Células-tronco combatem Parkinson em cobaias

As células-tronco embrionárias são capazes de promover a regressão dos sintomas do mal de Parkinson, ao menos em camundongos. Neurônios sadios produzidos por essas células, obtidas pela técnica de clonagem terapêutica de embriões, permitiram tratar com sucesso animais doentes, sem qualquer rejeição, conforme relatam pesquisadores do Instituto Sloan-Kettering, em Nova York (EUA). O estudo pode abrir caminho para o desenvolvimento de tratamentos para Parkinson e outras doenças que afetam seres humanos.

A clonagem terapêutica, também chamada de transferência nuclear de célula somática, consiste em transplantar o núcleo de uma célula somática adulta para um óvulo que teve seu núcleo previamente removido. Este óvulo dá origem a um embrião que, por sua vez, produzirá células-troco compatíveis com o doador. Essa técnica pode ser usada como uma forma de reduzir os riscos de rejeição em transplantes celulares, pois a aplicação de células-tronco requer compatibilidade imunológica com o tecido receptor.

Em estudo publicado esta semana na Nature Medicine, a equipe de Lorenz Studer relata a obtenção de neurônios dopaminérgicos – células do cérebro afetadas no mal de Parkinson – a partir de células-tronco derivadas de embriões clonados dos próprios animais doentes. É a primeira vez que a clonagem terapêutica é usada com sucesso para tratar pacientes doadores do núcleo da célula clonada.

O mal de Parkinson causa a degeneração e morte dos neurônios dopaminérgicos, que utilizam a dopamina como neurotransmissor. A doença, cuja causa ainda é desconhecida e não tem cura, pode levar a um quadro de desordem progressiva dos movimentos, como tremores musculares, dificuldade de controle dos músculos da face e da fala, desequilíbrio e outros sintomas.

Essa doença é freqüentemente enumerada entre aquelas que poderiam ser tratadas com células-tronco embrionárias. Estudos anteriores já haviam tentado usar células desse tipo, obtidas a partir de embriões produzidos com núcleos de diferentes doadores, para tratar camundongos com Parkinson. Nenhum deles, no entanto, obteve resultados tão expressivos quanto os do grupo de Studer.

Melhora sensível
A equipe dividiu os ratos em dois grupos: aqueles que receberam neurônios derivados de seus próprios clones e aqueles que receberam neurônios de outros. Em testes de comportamento, os ratos que receberam neurônios geneticamente compatíveis exibiram uma melhora neurológica sensível, com a redução dos sintomas da doença. Quando os neurônios foram implantados em ratos não compatíveis, porém, as células não sobreviveram e os animais não apresentaram melhora.

O estudo da equipe de Studer dá nova munição aos partidários ao uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas – cuja regulamentação no Brasil está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal. Embora o estudo tenha se limitado a testes com roedores, seus resultados significam um importante passo no combate a doenças degenerativas ainda sem cura, como Parkinson e Alzheimer. 

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
24/03/2008